quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

fim

hora a hora
dia a dia
mês a mês

chegámos aqui

ao momento dos momentos
ao limiar dos pensamentos

ao silêncio do que se fez
à ausência do que não se teve



partida amanhã
desejo renovado

destino?
ser quem eu quis...
sentir
feliz


de que ris?
Não me contento com pouco.
És tu o louco.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Hoje

hoje
todas as dádivas em mim
todos os natais
todas as páscoas
reunidos


todos os laços
que fiz

e desfiz...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Manhã

a aurora pinta o dia
e ele surge rosado,
como que envergonhado
por acordar assim
despenteado
e puro

e eu
na minha cama de estrelas
deixo que a sua luz
me invada
e me alente


o renascer
de tudo o que sente...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Beco

Hoje quero fugir
para um canto escuro
dentro de mim

no beco mais recôndito
na ruela mais sem fim
no esconderijo mais puro

e que ninguém me procure
que eu não me quero encontrar...


fecharei os olhos
serei apenas ente
na maré que vai vem
neste meu beco que sente....

sábado, 13 de dezembro de 2008

Abraço

escorre dos dias
esse resíduo
que cheira a vida
e que me impregna
a pele

traço a traço

na boca um leve sorriso
nos olhos
a imagem fugidia
dum abraço.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Maresia

palavra a palavra
riso a riso
desafio a desafio
dia a dia




no olhar
sigo o rio
sou maresia
sou melodia
sou desvario
sou ave
de penas apenas


sou mulher
sei chorar
sei rir
sei amar
sei perder e ganhar

gosto de ser.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Inteira

é a chuva
é o nevoeiro baixo
é esta humidade


é este eu
é este sentir


escorro nesta tristeza
derrapo na realidade

é viver neste mundo insano
não querendo nada pela metade!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Mais...

Hoje queria mais...

queria o sol a morder-me a alma
queria a roupa a pesar-me pouco
o corpo leve, liberto
o cheiro a maresia matinal
o amor como certo

queria-me só sentidos
em teus braços perdidos

Queria muito... afinal!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Noite

É noite. Mais uma noite como eu gosto. Muito fria, muito chuvosa e eu a ler, na minha cama de estrelas, aconchegada. Olhos nas letras, olhos lá fora, na chuva, na escuridão.Há pedaços de paraíso que às vezes desabam na terra e que nos envolvem como um casulo, onde nada nos pode atingir, desligados de todo o mal, de toda a dor. Paz, serenidade e o sentimento de corrente invisível a tornar-nos um elo duma harmonia maior, o sentimento de estarmos onde pertencemos, onde sempre quisemos estar.
O meu lugar, as minhas estrelas...No meu livro viajo pelo cemitério dos livros, o local em que os livros têm alma, da alma dos livros para a minha, da minha para a tua, da tua para a de tanta gente e todas são minhas, em todas bebo a vida.

e sou gota de água que escorre
e sou raio que atravessa os céus
pedra de gelo que sobressalta

e sou a mão que escreve
sou aquela a quem pouco falta


apenas os olhos teus
a descansar nos meus...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Guerra

atravesso a serra
mais uma vez

bruma, água, sol, gelo
música


hoje não me apetecem suavidades
em combate pelas minhas verdades

cada sentido desperto
animal encoberto
sai à rua
raiva nua



desço a serra
baixo a música
desligo a guerra


sinto sempre...
Tanto..

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Fuga

E se eu fugir
E se eu seguir
Esta aragem
E iniciar a viagem…

Quem me dera partir sem destino
Dar asas ao desatino
Fazer o que me dá na gana

Não me preocupar com ninguém
Ser eu e ir mais além…

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Desencontro

Vidas assim

desencontradas

em que

nunca

nada

parece certo

e se hoje

parece que sim

e o coração

está aberto

o amanhã

diz que não

e tudo parece incerto…




desencontro-me
em cada esquina
perco-me de vista
em cada colina
o longe perto
longe o certo
raios levem
a bolina!

domingo, 23 de novembro de 2008

Rio

assim
ao fim do dia
chega-me esta nostalgia

esta incompletude
vem com o frio
como que a dizer
que o calor do sol
não chegou à alma
e que sob a calma...

o meu rio corre
para longe
profundo...

Nele me afundo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Alforria

Não gosto de imposições
Nem de teorias
Nem de bajulações

Não gosto de prisões
Nem de gaiolas
Nem de grandes salões
Nem de grandes figurões

Não gosto de filosofias
Nem de certezas
Nem de realezas
Não tenho fobias

Gosto de rir com gosto
Do sol no rosto
da praia marinha quando
é Agosto

Da lua na rua
Do quente do lar
de te sentir meu par
quando a palavra é nua

Gosto dos meus botões
quando rimam com as minhas solidões

E gosto do meu quintal
coisa só minha
feudo meu ser
onde sou rainha...



(publicado aqui pela segunda vez... Apeteceu-me)

domingo, 16 de novembro de 2008

Rotina

sobe por mim a palavra
impõe-se
mistura-se com o travo a laranja


empurra o gesto quotidiano
despido, repetido e vão

pede além

e eu...

imersa na confusão
sou horário, tarefa, obrigação
esqueço essência, sonho e ilusão


amanhã... talvez

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Pena

Se esta pena fosse leve
soprava-a para longe
mas a brisa não passa
e ela aqui a pairar-me
a tornar-me a dita breve

Por mais que lhe faça sinais
sente-se em casa aqui
assentou arraiais...

domingo, 9 de novembro de 2008

Devaneio

na minha fortaleza de silêncio
paz e recolhimento
ouço os
devaneios do pensamento...

transporto-me
para onde fui feliz
para tudo o que fiz
para onde chorei
para tudo o que dei
para o que recebi

o sol incide em tudo o que vejo
nalgum ponto estou eu
no quebra-cabeças da vida
incerta do que almejo...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Amores Perfeitos

inspiro a noite serena
imagino-me em múltiplos lugares...

voar na imensidão
sem adeus ou prisão

beber a água mais pura
esconjurar a vida dura

e amar
sem definição
sem dor,aperto ou conjura

amar perfeição



ah! Os amores perfeitos que ornam os jardins...

domingo, 2 de novembro de 2008

Paragem

Vai parar e eu vou entrar
Sem conhecer o destino

quero embarcar

o mapa na ponta dos olhos
a rota traçada no peito
o leme de qualquer jeito


Cheira a lume na noite fria
árvores que se espalham no ar

é nesta embarcagem que vou

da vida que aqui parou
do cheiro que me chegou
das estrelas que os meus olhos contam
do sabor amargo que sou...

Passagem

segue a vida devagar
vejo-a passar quieta
e deixo a porta aberta
ao que me quer ensinar

vejo passar gente...
gente que entra e sai
gente que se detém
sou passagem e paragem
sou gente que me passou
sou gente que me ficou
sou aquela que riu e chorou

sou confluência, entroncamento
sou regozijo e lamento
sou sílaba que se quer soltar
mágoa oculta que me quer atar

carrego a minha bagagem
e vejo a vida passar...


quem sabe se vai parar...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Chuva

lá fora
bate ritmada a chuva fria
cá dentro
no ainda calor da noite
amanheço na madrugada sonhada
que nunca será nossa



enrosco-me no meu pensamento
fecho os olhos ao dia que quer chegar


neste torpor dolente
a tristeza passa rente.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nevoeiro

em nevoeiro enredada
subo a serra

tudo é bruma
e maresia
submersa a terra

viajante solitária
desbravo o vago
adivinhando rotas
sentindo o cheiro
da água que tudo fecunda
e que vingará as vagens
adormecidas

no meio do nada
prossigo a viagem

não quero miragem, margem
sequer paragem
só caminhar
sem descanso
envolta em água
palavra e ar...

Pareço voar!

domingo, 26 de outubro de 2008

S

sol...
silêncio...
serenidade...



sou só
senhora dos sons
sábia dos silêncios
sôfrega na saudade...

semeio searas na solidão
sinal singular...


fica por aí... no ar....

sábado, 25 de outubro de 2008

Testemunha

abarco o céu com o olhar
respiro a serra

sempre a mesma vista
diferente o mirar

a paisagem assiste-me
sente-me mudar
abriga-me na sua vastidão
mostra-me na sua plenitude
tudo aquilo que é vão.

domingo, 19 de outubro de 2008

Sossego

Corre-me a paz por dentro
espraia-se e faz-me ser...

saboreio o momento
solto o pensamento

gosto dos meus dias assim
soma de quase nadas
em que semeio vagens de brilho
sem que a rota esteja feita
sigo o meu trilho...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Cansaço

cai-me o último alento
vejo de dentro a noite
apetecem-me os seus mistérios...


que me lavem a alma
que me levem os cansaços
que feitos mar de sargaços
se enrodilham em mim


imersa no teu negrume
voarei mundos sem fim.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Desejo

No silêncio da casa
meus pensamentos à solta
arrastam-me na confusão...

quero ser folha ao vento
estrela sem firmamento
ser que dorme ao relento

Nada para me apertar
Nada de que me apartar

Só este existir assim
Sem propósito, meta ou fim.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Crepúsculo

Vai partindo a luz do dia
No horizonte rosado
meus olhos vêem quimeras...

Felicidades antigas
Sussurros perdidos
Palavras esboroadas
Tudo num baile cá dentro
em melodias desafinadas


Deixo entrar a escuridão
no salão abandonado...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Madrugada

Foi o vento que me acordou
A chuva veio de noite
e molhou o meu desassossego

sonhos embrulhados
em calor, mágoa e nada

Vendaval que trazes o dia
Sopra os meus sonhos na lonjura
Semeia-os por aí...

Eu quero dormir sossegada.

domingo, 5 de outubro de 2008

na vastidão do horizonte
recolho pedaços de nuvens
restos de ventos
gotas de chuva
beijos de sol
teço um colar
saio a dançar

as penas na lonjura
as dores lá atrás...

sábado, 4 de outubro de 2008

Prece

Ao longe a música
Vultos que se mexem na noite

Festa no relento outonal

Queria ser ponto insiginificante
no universo astral

Ser só luz que alumia
Era o que eu mais queria

Lá no alto
não me chegava a alegria...

Mas a dor, também não a sabia.

Reciclagem

Deita as palavras no lixo!
Bem sei que as alindaste para mim
escolhidas uma a uma na gaveta a abarrotar
e que as encostaste do jeito que só tu sabes...

De todas guarda apenas a palavra paz
escreve-a em ti a tinta permanente

Deixa vir Outonos, ventos, tempestades
Deixa voar folhas amarelecidas

Sê persistente!
venham mortes, venham vidas
Tu estás em ti!
O resto são só restos...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cansaço

É tão longa a caminhada
Tão sinuoso o caminho
Mais uma encruzilhada...

Não me apetece escolher
Não me apetece andar
Não me apetece nada!

Vou ficar aqui a dormir
vou na próxima nau
talvez me apeteça partir...

Observo os viajantes
Com uma ponta de nostalgia
Também assim fui um dia...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Meio Sentir

Cai a noite

A vida de todos os dias segue a sua vida...

E eu deixo-a ir



Parece fácil viver

É só respirar

E não pensar em ser



Não querer mais

Não sentir mais



Só a medida certa

A porta meio aberta

Só o meio ter

Para não doer.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Quadras quotidianas

Mais um dia...
A luz a incidir no mundo lá fora
Parece tudo tão igual
E sinto-o tão diferente agora

A ilusão da vida simples
O apego ao que é "normal"
Nos meus olhos o filtro
com que observo o real

vou juntar-me à multidão
que labora sem cessar
No corre-corre do pão
Sem tempo para pensar

só nos meus olhos da alma
poderás ver a tristeza
Aí sou toda inteira
não finjo, nem que queira

aí todos os meus fracassos
todos os meus contentamentos
os meus sorrisos
os meus lamentos

Saio de cabeça levantada
Mergulho na vida que passa...

domingo, 28 de setembro de 2008

Redemoinho

Nas árvores hoje ouve-se o mar...
Foi a tempestade que o trouxe...

Vês? As marés são imprevisíveis
Hoje ouço o mar no meu castelo
Tenho conchas no cabelo
e relâmpagos no olhar

Deixo-me ir na maré alta
o leme não me faz falta
sou mais um ser na correnteza...

Ao sabor do que não sei
A mando de qualquer rei...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Aconchego

Embrulho-me em ti noite
Aqueço-me nas minhas palavras

Invade-me este frio
que não consigo evitar

Restam apenas estas sílabas
com que sonho poesia
amornam-me este meu ser
até chegar o dia...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Alforria

Não gosto de imposições
Nem de teorias
Nem de bajulações

Não gosto de prisões
Nem de gaiolas
Nem de grandes salões
Nem de grandes figurões

Não gosto de filosofias
Nem de certezas
Nem de realezas
Não tenho fobias

Gosto de rir com gosto
Do sol no rosto
da praia marinha quando
é Agosto

Da lua na rua
Do quente do lar
de te sentir meu par
quando a palavra é nua

Gosto dos meus botões
quando rimam com as minhas solidões

E gosto do meu quintal
coisa só minha
feudo meu ser
onde sou rainha...

Deambulação

Aí pelo ar fesco de Outono
Aí pela rua
Aí no meio das luzes dos carros
Aí no no barulho da noite

Por aí ...
Vagueia a minha alma
Nua
Deambula a esmo

Nos seus olhos nenhuma procura
Nada espera, nada quer, nada sente
Apenas a tranquilidade a tortura
De tudo triste, de tudo contente

Ela passa assim
qual folha levada pelo ar
sem rota definida...

Deixem-na passar!
Está cansada e leva-me a mim.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Urdidura

Olha-me o meu castelo
na manhã serena e leve

O meu pensamento novelo
alonga-se e parece breve

quase Outono
quase Verão

quase morno
quase encandescente

Teço emoções e sílabas
Com os teus fios
Meu coração.

domingo, 14 de setembro de 2008

Tempestade

Cheirei-te na noite marinha
Senti-te na tempestade
Sem vela, leme derrotado
Náufrago da tua vontade

Amor de flébil querer
Cego do que quer ver
Viaja assim na miragem
Do que não sabe ser

Perdido nas brumas alterosas
Tacteante da felicidade
Espinhos apenas das rosas

Nesses olhos mareados
Na confusão da viagem
Nesses teus braços cansados...

sábado, 13 de setembro de 2008

Noite na alma

Na calada da noite
No frescor da escuridão

a minha alma serena
vaga na imensidão

de estrela em estrela
de brilho em brilho

de planeta em planeta
divaga...

vidas longínquas
palavras antigas
sentires dolentes
restos de cantigas
cantadas em dueto...
tatuadas as letras
no meu peito...

Alma inquieta
viajante do sentir
sossega agora um pouco
Deixa-me dormir...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Vida - Lista

Vida assim
Dar e tirar
Chorar e rir
Falar e calar
Pensar e agir
Ler e escrever
sentir
estremecer
gerar
aprender
errar
querer
amar
acreditar
morrer

Viver!

Meu filho

Que todos os dias nasçam para ti como o de hoje
Sereno, limpo, soalheiro
Tal como aquele em que nasceste e hoje recordamos

E quando as tempestades assolarem os teus dias
E os ventos te fustigarem
Lembra-te que dentro de mim haverá sempre o teu lugar

À tua espera

Tem sido uma caminhada fabulosa

Obrigada.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Espera

Nesta manhã baça e húmida
Nesta minha alma quieta

Nesta antecâmara de nós

Ouço o caminhar do teu sentir
Aguardo-te e desato os nós...
Preparo a festa a sorrir
Feliz de juntos e nunca sós.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Eternidade

Pudesse eu fechar na mão aquele momento
Pudesse eu gravar nos dedos o sabor da tua pele
O meu coração seria a tua gaiola
E no teu bico me depositaria.
O teu bafo seria eu.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Despedida

Escrevi hoje os meus últimos poemas neste blogue... Iniciei-o assim, sem pensar bem, porque era moda, porque li alguns de que gostei, incentivada por uma amiga que me ensinou como fazer. Fui colocando aqui as minhas crónicas, textos de outras pessoas, alguns textos meus e, posteriormente, poesia da minha autoria, que descobri que sabia escrever por empurrão de alguém muito especial.

Hoje coloco aqui um ponto final, porque tudo tem um princípio, um meio e um fim e é chegado o tempo do fim.

A todos os que por aqui passaram, leram e me comentaram o meu agradecimento sincero, continuarei a ler-vos e a partilhar convosco as palavras. Também continuarei a escrever, descobri-lhe o gosto...



Boas férias e até sempre!

Possibilidade

pudesse eu ser palavra e era paz
pudesse eu ser estação do ano e era Primavera
pudesse eu ser objecto e era porta
pudesse eu ser alimento e era pão
pudesse eu correr e era água
pudesse eu escolher e era riso
pudesse eu saber e era livro
pudesse eu escrever e era poesia
pudesse eu intervir e era revolução


sou mulher... e sou paz, abro a porta, sou Primavera, pão, água, riso, livro e poesia e revolução.

pudesse eu sentir-te...

Noite de Estio

na madrugada serena
envolve-me o luar morno

nada temo
nada sou
nada anseio

apenas esta calmaria
que me navega e me desbrava

e semeia pontos de luz
que me guiam para lá

onde não sei o destino
mas vou...

sábado, 12 de julho de 2008

Cegueira

Porque me dispo e não vês
Porque te canto e não me embalas
Porque te leio e não ouves
Porque me dou e não abres as mãos
Porque te acolho e não te recolhes

Porque sou flor de sal e me despedaças.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Quadras sentidas

Vesti-me de dores e penas
compus a minha carapaça
sorriso afivelado nas cenas
indiferente à conversa que passa



As penas perderam-se no ar
Deixaram apenas a lição
Despi-as sem vacilar
Mais rico o coração

Batendo independente
Sem recear tempestade
Coração imprudente
Porque és assim verdade?

Despe-te de ilusões
nada anseies que não bater
a vida sem confusões
Sem dor para te acometer...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Plenitude

Há dias assim
Em que cada coisa do universo
Parece que começa e termina em mim

Não há princípio nem meio nem fim
há apenas um sentido de pertença
de integração
de comunhão

E tudo está exactamente onde devia estar
Aquela música que toca
O céu estrelado
O frescor da noite que me invade
O cheiro que me deixaste

Maresia nocturna
Voa-me ao mar
Sê barco em mim
eu quero remar
e perder-me na miragem

Hoje sou viagem.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Ao longe

Chegas-me nesse som de longe...
Odores que flutuam...
Sinto-os nas minhas mãos,
Roçam a minha alma...

Quisera ser palavra
Estar sempre na tua boca
Quem me dera ser inteira
Excessiva, audaz, louca

Como limite o intangível
Coração que não tem freio

Não há longe assim em nós
Pelo ar nos unimos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Silêncio

Hoje não me apetecem palavras
Estou farta de palavras!

Quero falar com o silêncio
Ouvir o rumorejar dos meus pensamentos
o escoar das minhas mágoas

Quando bateres à minha porta
Interrogar-te-ei com o olhar

Não digas nada
...

Oa teus olhos saberão falar.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Chuva

Agora que a chuva veio e nos molhou
vimo-nos assim:
os nossos corpos revelados

os nossos olhos difusos
perdidos
saudosos do calor

Vem Tempo!
Sopra-nos...
desfolha o nosso íntimo

E as nossas penas serão
leves
breves
como o canto das aves do paraíso.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Prosa

Hoje apetecem-me frases corridas, hoje os versos parecem-me pequenos para levarem tudo o que sinto, hoje apetece-me falar da vida;
Hoje apetece-me dizer que gosto de me levantar e ficar um pouco no silêncio a ouvir a rua lá fora a mexer, enquanto eu me preparo para a enfrentar;
Hoje apetece-me dizer que é muito bom sentir que é só mais um dia e que amanhã vem outro em que poderei desfazer o que menos bom acontecer, ou fazer melhor;
Hoje apetece-me dizer que aqueles morangos vermelhos que tenho ali na cozinha exalam um cheiro fabuloso e que logo, quando entrar em casa e sentir o meu reduto, me deliciarei a comê-los e pensarei em como sou afortunada;
Hoje apetece-me dizer que os meus filhos já sairam e deixaram tudo desarrumado, mas que é bom senti-los algures, a crescerem, a serem aquilo que são, uns seres humanos fabulosos e agradecer cada dia que me é dado com eles;
Hoje apetece-me dizer que o que é banal e comezinho encerra a essência da nossa vida ...
Hoje apetece-me dizer que no nosso olhar sobre o mundo está o segredo das coisas, hoje apetece-me que a água escorra dos meus olhos e lave as mágoas porque às vezes faz bem e tudo fica mais claro.


Hoje vou viver, porque gosto, porque amanhã não sei...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Quadras imperfeitas

No correr dos dias seguidos
cinzentos nos movemos
guiados pelos sentidos
sedentos do que não temos

permanente insatisfação
que nos inquina os dias
cegos ao que nos dão
surdos a melodias

dias assim, de estagnação
em que tudo parece baço
em que tudo parece vão
em que questiono o que faço.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Abrigo-te

por entre as lembranças do sol
guardadas na pela morena
por entre o calor dos beijos
guardados no meu pensamento


sou pólen na tua primavera
gota límpida nesta vidraça
perfume na tua alfombra
brisa leve que passa


no mapa do teu sentir
deixa-me ser aldeia
casa de branco caiada
alpendre voltado ao sul
janela de azul
onde o teu coração abrigado
se espraia...

Fica-me ao fim da tarde,
por entre os hibiscos e as cerejas
entre os risos e as palavras
entre os beijos comungados,
murmuro...

Somos presente e passado
Somos seiva, sémen, sílaba
Na casa dos antepassados
Sabemo-nos a futuro.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Abrigo

Deixa-me dizer-te
da chuva que cai miúda
sobre o meu coração

deixa-me contar-te
da torrente
que passa

deixa-me narrar-te
a história
que me contaste ao ouvido...

És chuva no meu sequeiro
calor no meu Inverno


És e abrigas-me.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Farol

no meio da multidão
no labirinto da vida
perco-me em mim

espero um sinal
espraio a vista
na busca de um farol
que me alumie
que me mostre os escolhos

se me apareceres hoje
no meio da multidão
reconhecer-te-ei

ver-me-ei reflectida
no farol dos teus olhos
e guiar-me-ás
em ti
leme de mim
leme de nós.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Partida

Era uma dia como os outros
Era uma vida como as outras



Sempre tudo tão igual...

Quem me leva?



Levem-me de férias de mim...
Já quase me não suporto



longe ganharei saudades
e quando me encontrar comigo



sentirei aquele vago contentamento
do reencontro com alguém querido
mas que passamos bem sem ver

esta vaga tristeza,
este estar alheio ao bem
voltarão....

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Escalada

No cimo da montanha
que se vê do meu coração
estás tu...

pujante, libertino, vivo...

Não grites...

Eu sinto-te...

Do cimo da montanha a nós
vai apenas a distância do querer

E queremos.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ocaso

O resto do dia escorre
lentamente
nesta quietude

lá longe
o sol põe-se
alaranjado

amanhã surgirá de novo

vem-me aquela nostalgia
de quando o dia chega ao fim
e falta qualquer coisa

uma vaga orfandade
uma falta de porto,
de aconchego

Como se a minha casa
já estivesse em ti

Como se só tu tivesses a chave que abre a
fechadura reforçada

Como se o ar só entrasse
se tu abrisses as janelas

Como se só pusesse a mesa
de festa, quando viesses

Como se as fragrâncias só me chegassem
através dos teus sentidos


Já se pôs o sol
O dia desprende-se
e as trevas invadem tudo...


Ainda tenho a flor amarela na orelha...
Quero acreditar que o amanhã é um imenso campo de flores
amarelas e azuis.

domingo, 27 de abril de 2008

Love Story

Conta-me histórias... O que eu gosto das tuas histórias! Conta-me como só tu sabes contar, com a voz calma e a tua respiração entrecortada, os olhos nos meus a contar o resto que não cabe nas palavras. Era uma vez um homem, uma mulher... As histórias são todas tão iguais, os sentimentos sempre os mesmos... O amor, a alegria, os beijos, os desencontros, as inseguranças...










Diz-me que no fim ficaram juntos e foram felizes para sempre enquanto durou...

sábado, 19 de abril de 2008

Viagem

As marés
que vão e tornam
trazem coisas sem fim

Gosto desse movimento incessante
dessas vagas ancestrais
pela praia encontro tesouros
conchas, tábuas, cordas, metais...

No meio do nada
que é muito
procuro tesouros, miragens
espeto uma vela no coração
inicio a minha viagem

na linha do horizonte
comigo por companhia
aspiro a ser água
saibo-me a maresia

Nesta navegação
em mim,
na busca do que nem sei

a brisa traz-me um aroma
prende-me um olhar náufrago

Chegas... Sabes a mar, a descoberta...
És concha, tábua, metal, corda?

Esqueço as definições
não me preocupa o porvir
Embarco nesta viagem

Não quero mapa, nem âncora

O meu leme é só sentir.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Manhã

Gosto deste sol matinal e deste cheiro a pólen
que invade o ar...
Cheira a vida, a regeneração
Cheira-me a ti

Chegaste assim, curioso, a medo,
e eu colhia flores, distraída,
não te senti chegar

Talvez uma sílaba te tenha anunciado
Talvez um quebrar de galhos
Talvez um aroma, uma sombra...

Vê como o sol faz abrir estas flores
Vê como morrerão amanhã
Exangues da sua beleza

Mas o seu reinado foi glorioso
na sua plenitude
exalaram o seu pólen
deslumbraram com as suas cores
adornaram-nos

Vê como há reinados
que valem a pena
por muito curtos que possam ser...

E há reinados que se perpetuam
aromas que permanecem
pólen que fecunda.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Além… onde passa aquela nuvem
tudo parece bem…

Sigo-a com o olhar,
imagino o seu caminho
neste silêncio solar

Tanto carro que passa
Tanta gente sempre a correr
Por mais coisas que faça
há sempre algo a prender

Se fosse aquela nuvem
e dormisse no céu
Teria uma estrada de vento
Seguiria o meu pensamento
Ao sabor daquilo que é só meu

Nesse voo desmesurado
Com o sonho a comandar
Sentir sempre não é demasiado!

Irene

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Adeus

Hoje não é um dia qualquer.
É especial
Se procurar no meu calendário
Cada dia tem sua efeméride

Tanta coisa aconteceu hoje
Chuvas diluvianas
Gente nasceu, gente morreu
Gente saiu de casa trabalhar e regressou

Este também será único…
Saíste… E não sei se regressas…
Tens lugar marcado na minha pele
Cheiro cativo em mim.

No calendário da minha alma não há Outono
Que arranque as tuas folhas…
Quando do teu aroma nada ficar…
Folhear-te-ei
E desprender-se-á um rumor de beijos, risos, olhares…

Irene

Chuva

Sinto a chuva
Vejo-a na minha janela
E solto o pensamento

Deixo-o ir
para outros dias de chuva
Tantos dias que eu já vivi!

Uns perderam-se
no tempo dos dias sem marca
Outros ficaram aqui:

O dia em que dancei à chuva, de braços abertos
o sol me secou e senti que podiam nascer em mim
todas as plantas raras do mundo
O dia em que a chuva nos ouviu.

Irene

domingo, 6 de abril de 2008

Trilogia

Vou
Leva-me!
Porque partem sempre para onde não posso ir?
Leva-me!
Na tua mala
No teu coração
Numa prega da tua alma
Num recanto mais escondido
Num sítio onde te cheire
E onde me sintas

Ao alcance do pensamento
Onde esbarres comigo

Mesmo que não queiras.



Vem
Vem
Não vês que te espero há tanto tempo?
Não vês que no meu mundo há um lugar para ti?

Pensado à medida
dos teus dedos
do teu riso
da tua pele

Espero-te aqui no cais
com flores de água
abraços de vento
E o meu vestido preto

Vem conhecer o teu lugar
em mim …
Sente o linho, o alecrim, a seiva

Deixa o teu olhar
chegar ao meu.
Depois o meu mundo será onde
me avistares.



Ponto de Encontro
Sempre a mesma coisa.
O mesmo desencontro.
O mesmo desencanto

Que raio de busca esta!

Sinto este sol
que me requenta
Aspiro a sorte de ser eu
mas não vamos na mesma rua…

Muda de mapa!
Assinala-me aí…
Não digas que sou grande demais
Nem que destoo da paisagem…

Deixa-me guiar-te
Agarro os teus dedos
Traço o caminho…
Vês ali aquela flor?
Ombro no ombro
Pele na pele
Odor teu em mim

Vês?
Afinal há cruzamentos…

Irene

sábado, 5 de abril de 2008

Beijo

olhar-te na penumbra
sentir o teu cheiro
sentir o teu beijo antes de o receber
é saboreá-lo já
antecipá-lo
imaginá-lo
adiá-lo
até que
quando finalmente
os teus olhos se aproximam tanto
que desaparecem
e por fim..
recebo-te!

imagino e realizo

Não perguntes como beijo..
beija-me simplesmente.
Logo verás que a alma me sai pela boca
e que a tua me invade e te desbravo.

Irene

Como raios no deserto em noites de luar

Antes de tocar teu corpo
já me tinhas seduzido
duas vezes

Uma como teu sorriso em fogo
outra
com teu olhar em riste

Quanto entrei em ti
de madrugada
foi apenas um gesto instinto

São assim os casamentos do Destino
como os raios no deserto
em noite de luar

Luís Gaspar

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Amores, desencantos e afins

Dia de sol, Primavera, estação do ano associada ao desabrochar dos amores, aos enamoramentos, ao despertar dos sentidos.
Olhava para o meu castelo, (que me desculpem todas as pessoas que também têm um castelo, mas o meu é o mais lindo do mundo), vieram-me à memória contos de fadas, histórias de príncipes e princesas, felizes para sempre e com muitos filhos e pensei cá com os meus botões cada vez há menos disto!
Olho à minha volta, penso nas pessoas que conheço e as conclusões não são muito animadoras… Cada vez há mais gente a viver sozinha, tanta! Umas por opção, outras por contingências da vida.
E a quantidade de pessoas que, vivendo acompanhadas vivem sozinhas? A larga percentagem dos casamentos/relacionamentos de coabitação que conheço, nem digo números para não me acusarem de ser pessimista e porque não são fundados em nenhum estudo científico, vivem juntos por comodismo, por hábito, porque enfim, parece mal separarem-se, têm uns affaires fora dos relacionamentos e assim preenchem a necessidade de paixão e encanto.
Uma coisa é certa… Embora muitos não admitam, todos temos necessidade de alguém que nos preencha, que seja cúmplice, que partilhe aquele momento especial, em cujo olhar nos miramos e nos sentimos em casa, mesmo que não haja palavras. Esta partilha, nos dias de hoje, não implica necessariamente coabitação no mesmo espaço, as pessoas, (sobretudo as que já passaram por isso), perceberam que as rotinas, as monotonias são assassinas dos encantos e das paixões assim, independentes financeiramente, preferem ficar cada um no seu canto, partilhando o que de bom as une, não discutindo sobre a tampa da pasta de dentes ou a roupa no chão…
Esta procura da alma gémea, da metade da laranja acontece em todas as idades, classes sociais mas… Ao passo que na juventude se é menos exigente, à medida que se vai ficando mais maduro os requisitos vão sendo mais numerosos e difíceis de preencher… Como concluía uma das personagens de “ A Mulher Certa” de Sandor Marai, a pessoa certa, ideal não existe, no entanto é a busca desse ideal que nos preenche, que nos motiva e que dá sal à vida.

Aquece

É Abril... E não há águas mil... Há este ar morno que nos invade, que nos aquece a alma, que nos impele para fora de casa, para a praia, para a natureza, onde se sente o aroma das flores recém desabrochadas e das folhas tenras.
Ontem fiz a minha caminhada na praia.. O que eu gosto destes dias em que a praia está óptima e deserta... Uma praia só para mim, a linha do horizonte apenas areia e mar revolto, as conchas por ali, nenhumas pegadas que não as minhas...
Sabem bem estes momentos em que, só com a natureza, com a sua magnificência, me reposiciono face ao mundo e aos outros, sinto o meu lugar e penso que, apesar de me não lembrar muitas vezes, sou uma ínfima porção deste universo imenso.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Os que lutam

"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."


Bertold Brecht

domingo, 30 de março de 2008

Checklist...

Se soubesse pôr, punha aqui uma bolinha vermelha no canto superior deste post...
Já sabem que eu não leio só o meu blog... Gosto de andar por aí à descoberta e nos meus favoritos tenho um blog que me faz rir muito e rir faz muuuuuuito bem. É escrito por duas senhoras do Porto, portanto a linguagem pode ser assim, digamos... um pouco vernácula, lamento se for chocante! Se nunca mais cá vierem... paciência!
Este texto que retirei de lá é uma checklist dos defeitos que os homens não podem ter, segundo as duas senhoras que fazem o blog...




"- Pêlos a sair das orelhas....foda-se!!!! Horrível.....alguma vez as lambia??? O gajo até parece giro e tal mas vira-se e zás! A puta da pica cai a pique com tamanha pentelheira a sair do tímpano.
- Dentes podres ou amarelados, dá logo ar de quem passou a vida a limpar a sanita com a língua e nem me estico mais que já estou com náuseas....
- Camisa aberta tendo pêlos no peito, tipo Zézé Camarinha! Ainda por cima se for adornado de um colar grosso de prata....hehehehe. No outro dia vi um gajo, que além dos pêlos no peito e do fio ainda tinha borbulhas amarelas prontas a explodir! Lindo!
- Coçar os tomates em público!!! Eu sei que têm comichão e que é fodido. Mas nós também temos comichão na parreca e não nos coçamos em público! Havia de ser bonito se me lembrasse de coçar a crica..... Local de trabalho, eu encostava-me pra trás, abria as pernas e coçava a micose...lol
- Voz de pito. Esta a mim é mesmo daquelas merdas que me faz dizer "oh foda-se, tavas a ir tão bem". Há-os tão lindos e quando abrem a boca, puta que os pariu...parecem galinhas ou o caralho.... Sei que não têm culpa......Mas que tira a vontade de foder, Tira!!
- Gabarolas. Com estes há que desconfiar! Quem é realmente bom não precisa de publicidade...
- Cabelos oleosos. Há montes de shampôs que tratam dessa merda. Não há desculpa.
- Mau hálito. Comprem pastilhas elásticas, rebuçados ou o caralho mas faxavor de não mandar com a vossa halitose pra cima da gente...
- Unhas dos pés grandes....deve ser bonito ser arranhada por uma daquelas garras no meio do acto...deve, deve!!!! Tou mesmo a vêr, "rasgou-se o preservativo"..."pois, deve ter sido a unhaca do dedo mindinho do teu pé, gajo!"
- Meias brancas! A não ser com os ténis....é impensável! É que é daquelas merdas que TODA a gente já sabe, né????
- Palitos na boca! Sei que a comida nos dentes é fodida, sei tratar-se de um hábito latino mas....foda-se.....nada, nada sexy e ainda pra mais se acompanhado com aquele barulhinho tsh tsh tsh
-Unha do Dedo Mindinho Grande que mais parece uma pá! Ela é pra tirar o cerume do tímpano, ela é pra palitar os dentes, ela é pra coçar o cagueiro....Eu reconheço a utilidade prática deste adorno, mas foda-se! Não há paciência.
- Pêlos nas costas e nos ombros! Mais parecem tapetes volantes....Se até o Mister Macacóide, Sr. Tony Ramos, os tirou..... "

Chegaram aqui? Se quiserem mais aqui vai o endereço do blog
http://gajaspodresdeboas.blogspot.com

Pensamento

"... Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida ...''

Pablo Neruda

sexta-feira, 28 de março de 2008

Indisciplina, telemóveis e autoridade

Meio país entrou em estado de choque à conta do vídeo da aluna do Porto em luta pelo telemóvel com a professora. É de facto um filme degradante, em que ninguém sai bem, nem as personagens principais, nem os actores secundários e permite várias abordagens.
Começo por falar de respeito e autoridade e de como aos professores se pede o impossível: que na escola se incutam valores que já deviam vir de casa. Os alunos mais problemáticos nas escolas são, normalmente, aqueles que não respeitam a autoridade em casa, não acatam ordens dos pais, se estes as chegam a dar, porque na maior parte das vezes isso nem acontece, os pais não dão ordens, não definem regras, ou porque não estão ou porque se demitem dos seus papéis. Quando a coisa dá para o torto, lá aparecem nas escolas, quando aparecem, a dizerem que não conseguem “fazer nada deles” e a pedirem para os professores fazerem milagres. Li hoje num jornal qualquer que, em Espanha, uns pais tinham sido multados por um tribunal devido a conduta imprópria da filha na escola. Quando os alunos são problemáticos e há colaboração familiar quase tudo se resolve.
Os telemóveis são nas escolas uma praga. No meu caso, nas turmas regulares não tem havido problemas, muito, muito raramente toca algum telemóvel. No entanto, nas turmas CEF, com alunos mais problemáticos, a coisa já é mais difícil de gerir… Uma coisa é certa, o confronto directo, como no caso da professora do Porto, é a opção menos acertada, na minha modesta opinião, claro está. Alunos deste tipo dominam muito melhor que os professores a linguagem da violência, da agressividade e o resultado será sempre o que ficou à vista. A estratégia terá que ser outra, no entanto, reconheço que, no calor do momento e em ambientes extremamente hostis, como era o caso, nem sempre há o sangue frio necessário para decidir o mais acertado.
Os professores hoje em dia não têm vida fácil. No meu tempo, quando chegava a casa com queixas de professores, a resposta era invariavelmente a mesma: o professor tem razão, era ralhete certo. Hoje caiu-se no extremo oposto: o menino chega a casa com uma queixa do professor e no outro dia o pai está na escola a fazer queixa do professor. Conheço um caso em que o telemóvel do aluno tocou três vezes na aula, era a mãe. À terceira a professora atendeu, pediu à senhora que não ligasse mais porque estavam em aulas… No dia seguinte a referida senhora estava na escola, a fazer queixa da professora: tinha sido pouco correcta ao atender o telemóvel!!!!
Como em tudo na vida é preciso bom senso de todos e que cada um assuma as suas responsabilidades: pais, alunos, professores e auxiliares de acção educativa.
Educar é uma tarefa partilhada por todos estes intervenientes e quando algum deles se demite…

quinta-feira, 27 de março de 2008

# 25: Outras felicidades

(...)
8.Vê se percebes, amor.Eu quero voar. Quero fechar os olhos, abrir os braços e voar, subir e subir e subir, atravessar nuvens e sentir a sua humidade na ponta da língua, trespassar o azul do céu com o azul dos meus olhos, e continuar, sempre, por aí acima. Quero sentar-me na lua e sentir o cheiro das estrelas. Quero ser engolida por um buraco negro, ser perseguida por uma estrela cadente. Quero espreitar o interior dos satélites, dançar nas suas asas.E depois, regressar. Conhecer os mares, nadá-los, aprender os seus fundos. Perseguir peixes, ser engolida por uma baleia e adormecer no seu estômago. Descobrir grutas subterrâneas, desenterrar tesouros fabulosos. Encontrar o equivalente masculino das sereias (tritões, não é?) e fazer amor sobre as algas, vez após vez. Ou simplesmente: respirar dentro de água.Quero deitar-me na erva fofa de uma campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando: como se o mundo esperasse por mim. Percebes isto? Sentir que o mundo espera por mim. Sentir que sou tão importante para o mundo que ele espera por mim.E depois, agradecer-lhe: devorando-o. Sei lá: subir árvores, andar de bicicleta, roubar nêsperas e atirar os caroços a quem calhar, colher flores, aprender a linguagem secreta dos gatos, fazer pão e comê-lo com manteiga, rasgar os livros de que não gosto, tocar violino no cimo de uma montanha, fazer aviões de papel e atirá-los do alto de um farol, escrever poemas eróticos e declamá-los a desconhecidos, colher caracóis nas bermas das estradas e depois libertá-los nos pomares, brincar com bonecas, abordar pessoas desconhecidas e adivinhar-lhes os nomes, caminhar pelos passeios e sorrir a quem passa.Quero percorrer o mundo, cada centímetro do mundo, e apropriar-me dele, fazê-lo meu. Quero devorar vida, engolir felicidade; e depois, devolvê-la, através dos olhos, a quem amo, a quem um dia odiei. Quero beber a beleza do mundo e dos homens, embriagar-me de beleza, ser beleza. Destilar beleza. E depois, morrer: saciada. Deitar-me novamente na erva fofa do mesmo campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando, parou: para sempre.Percebes, amor?Quero tão pouco, afinal. Não achas?

Paulo Kellerman
http://agavetadopaulo.blogspot.com

terça-feira, 25 de março de 2008

Ser

Mordo as palavras uma a uma
Sabem a coisa nenhuma.
Letras gastas,
Versos sem rima,
Inodoros e sem cor.
Ah…Ter nas palavras a força
Que têm os mestres,
Fazer da poesia manifesto
Ou fazer com a poesia amor…
Seria conquistar o mundo sem dar um passo,
Ter dos pássaros as asas e a liberdade,
Dos homens todas as vozes
E da eternidade provar o sabor.

Encandescente, in "Palavras Mutantes", pág.42, Edições Polvo

segunda-feira, 24 de março de 2008

Poesia

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector

Balanço

Depois da big party e das respectivas arrumações, tem sido muitas sopas e descanso. Entreguei-me à leitura dos livros que me ofereceram, entremeada com umas sonecas e contemplações do céu a partir da minha janela.
Ontem de manhã, o céu estava especialmente azul e, deitada na minha cama,(tenho o privilégio de ter um janelão enorme de onde só se vê o céu), havia uma pequena nuvem branca, tipo pincelada ao acaso, pequena, redonda, que foi desaparecendo, no seu trajecto. Depois vieram outras, pequenas, brancas, airosas, que passaram também e dei por mim a pensar nos meus amigos, na minha família, na festa, nos quarenta, nas pessoas que passaram na minha vida sem deixar grande impressão, como aquelas nuvens brancas e leves, e noutras que passaram e deixaram um rasto, tipo aquelas nuvens associadas a grandes tempestades das quais, anos depois, ainda se guardam reminiscências dos danos que provocaram. Finalmente pensei nas pessoas que têm permanecido, nas que têm chegado de novo... Pensei nos meus alunos, especialmente nos mais problemáticos, naqueles que me dão mais luta, naqueles que são mais dificeis e em como é bom ganhar o afecto deles. Ontem de manhã, um deles, talvez o mais problemático de todos, ligava-me com um ar choroso, a dar-me os parabéns, a dizer que se tinha esquecido e se me podia mandar uma mensagem de Páscoa... Era domingo de Páscoa e sei que para ele seria só mais um dia, em que provavelmente racharia lenha, seria ridicularizado pelo pai, trabalharia duro, não haveria amêndoas, coelhos de Páscoa ou mimos. Portanto festejei o seu telefonema como se tivesse chegado no momento exacto do aniversário.
Tenho esta mania de abrir a porta a toda a gente, de partir à descoberta de cada pessoa, só com expectativas positivas e de as deixar revelar-se na sua plenitude, não serão perfeitas porque eu também não sou, às vezes não corre bem, porque de facto há algumas que nos trazem muito pouco de bom. Em compensação há outras... que tudo compensam.
Pensei nas pessoas que estiveram em minha casa, nos seus percursos de vida, nos seus problemas, no muito que me têm enriquecido, no porquê de estarem ali. Os meus pais, com quem sempre contei, a quem tudo devo. Os meus filhos, companheiros insubstituíveis. E todos os outros, especiais para mim, de alguma forma.
Pensei nas que não estiveram, embora eu o tivesse desejado, mas que não estando em corpo, o estiveram em espírito, acompanhando-me. Como em cada dia.
E depois, regressei ao livro, e depois veio uma sonolência e fiz uma soneca.
"Tá-se" bem.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Vimos chegar as andorinhas

Vimos chegar as andorinhas
conjugarem-se as estrelas
impacientarem-se os ventos

Agora
esperemos o verão do teu nascimento
tranquilos, preguiçosos

Tão inseparáveis as nossas fomes
Tão emaranhadas as nossas veias
Tão indestrutíveis os nossos sonhos

Espera-te um nome
breve como um beijo
e o reino ilimitado
dos meus braços

Virás
como a luz maior
no solstício de junho.


Rosa Lobato de Faria

terça-feira, 18 de março de 2008

Cativa-me

(...) E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um menino inteiramente igual a cem mil outros meninos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

Antoine de Saint Exupery

Porta aberta

Quem tiver coragem que me refreie,
Que me ponha um freio,
Uma mordaça,
E cale a voz que tenho em mim.
Tenho tempestades para dar
A quem se atrever a entrar,
Nas portas que abro aqui.
Quem quiser calmaria
É melhor nem espreitar,
Que não sou
Santuário ou oásis,
E a paz,
Não a encontram em mim.
Mas quem quiser ser vento,
Atravessar tempestades,
Subverter todas as possibilidades
Mergulhar sem saber profundidades...
A porta está aberta,
Pode entrar!

Encandescente, in"Bestiário",pág.68, Edições Polvo

segunda-feira, 17 de março de 2008

40

Esta semana é especial... Lá para o fim da semana faço 40 anos. Quando era adolescente e pensava em pessoas com mais de 30 anos achava que eram velhas! Não me sinto velha, pelo contrário, sinto-me melhor que nunca, não gostaria que o tempo voltasse para trás, mas poderia parar aqui.
Trago em mim tudo o que me aconteceu... O que me fez rir, o que me fez chorar, o que me fez pensar, as asneiras que fiz, os meus sucessos, os meus fracassos e toda eu sou estas coisas todas arrumadas cá dentro e que me impulsionam a viver mais e melhor.
Não mudaria nada do que aconteceu, tudo contribuiu para aquilo que sou hoje, mesmo o que me fez mais mal e me magoou mais, foi com o que mais cresci.
Aliás, tenho da vida uma concepção um pouco fatalista, acho que nada nos acontece por acaso, portanto...
Gosto de viver, de rir, das pessoas que estão ou passaram pela minha vida. Gosto de sair de casa em cada dia e ter o privilégio de fazer o que gosto, de sentir cada cheiro, cada palavra, cada olhar. Por isso farei uma festa, porque cá dentro há festa!
Depois... Gosto do dia que escolhi para nascer, acho que é especial...
Dia da árvore... Uma árvore não é um ser vivo qualquer, está em íntima comunhão com a terra, comunga da sua seiva,expande a sua sombra sobre viajantes exaustos, namorados de mãos dadas, velhos que jogam cartas, baloiços que oscilam por entre gargalhadas...
Dia da poesia, o que eu gosto de poesia! Oque eu gosto de palavras intensas, combinadas daquela forma que me toca , de momentos que por vezes, sem nenhuma palavra, são poesia pura.
Dia da Primavera, colo aqui o que já escrevi...Gosto deste cheiro a Primavera, deste sentir que a natureza se renova, destas temperaturas mais tépidas, do aligeirar das roupas, do cheiro do polén no ar. Há uma promessa de regeneração...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Normas

O nosso mundo é cheio de regras e convenções e conduzir-nos por entre tantos sinais de trânsito e proibições, evitando choques frontais, despistes e outros percalços é obra! As normas vêm dos mais variados lados e regulamentam as mais variadas coisas e nós cá vamos vivendo, numa gincana constante cuja meta será estarmos bem, em suma, sermos felizes, seja lá o que isso for para cada um de nós.
Pagamos impostos, pagamos casa, tiramos férias quando nos deixam, entramos e saímos dos empregos quando nos mandam. Não damos escândalo (supostamente) e isto pressupõe que temos os comportamentos considerados adequados à nossa faixa etária e classe social: não andamos nus na rua, não exteriorizamos demasiado os nossos sentimentos em público… Resumindo: somos mais ou menos alinhados. Alinhados com quê? Connosco ou com os outros?
Além destas regras existem muitas outras… Temos os pecados mortais que aprendemos na catequese e definidos pelo Papa Gregório I no séc. VI, ainda se lembram? Gula, avareza, preguiça, raiva, luxúria inveja e orgulho. Bem… Daqui ninguém se safa, todos pecamos, menciono só os mais ao alcance de todos: o prazer de ter um dever para cumprir e não o fazer, como dizia o poeta; o prazer de saborear as nossas iguarias, de fazer às vezes quilómetros para degustar aquilo que as nossas papilas, gulosas, nos exigem! Já para não falar dos dez mandamentos… Aliás o Papa, esta semana, resolveu actualizar a lista de pecados mortais juntando-lhe mais seis: pedofilia, aborto, poluição do ambiente, pobreza extrema de uns e riqueza escandalosa de outros, tráfico de droga e realização de experiências de manipulação genética.
No meio desta confusão, parece-me que o caminho é simples e que encontrado esse, tudo o resto virá naturalmente: se gostarmos de nós, saberemos desfrutar e gostar dos outros e do que nos rodeia, saberemos o que nos magoa e o que nos faz felizes e teremos prazer em fazer os outros felizes, teremos prazer em viver harmoniosamente com o ambiente que nos rodeia.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Da amizade

"Era bom saber – continua, como se discutisse consigo próprio –, se existe amizade realmente? Não me refiro àquele prazer ocasional que faz com que duas pessoas fiquem contentes porque se encontraram, porque num determinado período das suas vidas pensavam da mesma maneira sobre certas questões, porque os seus gostos são semelhantes e os seus passatempos iguais. Nada disso é amizade . Às vezes chego a pensar que essa é a relação mais forte na vida... talvez por isso seja tão rara. E o que há no seu fundo? Simpatia? É uma palavra imprópria, sem sentido, o seu conteúdo não pode ser suficientemente forte para que duas pessoas intervenham em defesa um do outro nas situações mais críticas da vida... apenas por simpatia? Talvez seja outra coisa?... Talvez exista uma pitada de Eros no fundo de todas as relações humanas? [...] Naturalmente, a amizade não tem nada a ver com a inclinação doentia de algumas pessoas que procuram uma satisfação disforme com pessoas do mesmo sexo. O Eros da amizade não precisa do corpo... longe disso, incomoda mais do que o excita. Porém não deixa de ser Eros. Eros está no fundo de todos os afectos, de todas as relações humanas. [...]
As simpatias que vi nascer entre pessoas diante dos meus olhos, acabaram sempre por se afogar nos pântanos do egoísmo e da vaidade. A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas que essa intimidade é uma espécie de amizade."

Sandor Marai, as velas ardem até ao fim
( Aquele livro onde volto sempre)

Sedução

Dentro de mim mora o animal
indômito e selvagem
que talvez te faça mal

talvez uma faísca
relâmpago no olhar
depressa como um susto
me desmascare o rosto
e de repente deixe exposto
o meu pior

em mim germina
uma força perigosa
que contamina
uma paixão vulgar
que corta o ar e que
nenhum poder domina

explode em mim
uma liberdade que te fascina
sopro de vida
brilho que se descortina
luz que cintila, lantejoula
purpurina
fugaz como um desejo
talvez te mate
talvez te salve
o veneno do meu beijo.

Bruna Lombardi
(uma excelente poetisa, actriz e ... uma mulher lindíssima)

terça-feira, 11 de março de 2008

Fim de tarde

Cheguei, sentei-me aqui, olhei para a serra, meia escondida pelas nuvens baixas, pesadas, uma chuva miudinha . O dia que parte, a noite que espreita... Há dias em que me apetece mandar a rotina e as obrigações às malvas... Mas depois penso em todas aquelas coisas que enriqueceram o meu dia, nas palavras, nos silêncios, nos olhares, nos sorrisos...
E o meu castelo, com os seus coruchéus verdes, companheiro, cúmplice, sobressai no nevoeiro, como que dizendo, há sempre algo que se levanta mais alto, mesmo no meio do maior nevoeiro...
Pronto, a noite já envolveu tudo, com a sua promessa de mistério.
"Horas benditas, leves como penas, horas de fumo e cinza, horas serenas" (Florbela Espanca)

domingo, 9 de março de 2008

Manif

Domingo à noite... Nova semana se inicia. Confesso que tenho tido umas semanas assim a dar para o estafante e ando com as pilhas um pouco em baixo...
Ontem fui à manifestação e fiquei surpresa com a mobilização! Tanto professor! Também fiquei surpresa hoje com o discurso do Primeiro hoje... Continua a insistir na teoria de que os professores se querem manter como há vinte anos atrás! É mentira! todos queremos ser avaliados, isto de toda a gente ter suficiente, trabalhe muito ou pouco, não é justo para ninguém! Continua a culpar os professores de todos os males, esquecendo-se que nós andamos no terreno há anos a implementar reformas de acordo com as cabeças que vão passando pelo ministério, sem que sejam avaliadas e que os resultados são fruto das ideias de quem manda...
Enfim, aguardemos...
Não digas ao que vens. Deixa-me
adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. É longe atua casa?
Dou-te a minha: leio nos

teus olhos o cansaço do dia que te
venceu; e, no teu rosto, as sombras
contam-me o resto da viagem. Anda,
vem repousar os martírios da estrada

nas curvas do meu corpo - é um
destino sem dor e sem memória. Tens
sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja - morde-a na minha
boca sem pedires.

Não, não me digas
quem és nem ao que vens. Decido eu.

Maria do Rosário Pedreira(a minha poetisa favorita)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Dia da Mulher

Este é um comentário que alguém deixou ao meu texto anterior.. Mas é tão bonito que merece ficar na página principal...

"Cuida-te de fazer chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A Mulher saiu da costela do Homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas do seu lado para ser igual.Debaixo do coração para ser protegida e ao lado do coração, para ser Amada."



Do Talmud Hebreu

Ser mulher

Ser mulher…

Amanhã é dia da mulher, embora não seja muito de comemorar as coisas nas datas marcadas e achar que sou mulher todos os dias e que também devia haver um dia do homem, hoje apetece-me seguir o mote.
Ser mulher é ter o privilégio imenso de gerar vida cá dentro, de a trazer em nós. Depois, cortado o cordão, sentir o laço que não mais se desfaz…
Ser mulher é sentir de outra forma, é olhar diferente, é resolver diferente, é ser forte.
Ser forte, não significa gritar para ser ouvida e para chamar. Não é "medir forças", "enfrentar", pois a nossa força está na persuasão. Ser forte é saber recuar, fortalecer-se, para então avançar com mais força, mais segurança, mais convicção e atingir o objectivo e assim vencer.
Vencer o quê? Vencer a batalha diária pela felicidade, pelo direito a beber em cada dia o melhor que ele tem, para que no meio da correria do trabalho, das roupas, da comida, possamos sentir o sol na pele, sentir aquele olhar especial que nos dirigem, ler a poesia de que gostamos.
À mulher é pedido muito, dela muito se espera…
Termino com uma citação…
“Superiores pelo amor, mais dispostas a subordinar a inteligência e a actividade ao sentimento, as mulheres constituem espontaneamente seres intermediários entre a Humanidade e os homens”
Auguste Comte

quinta-feira, 6 de março de 2008

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia
e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez,
te reconheças.

Miguel Torga, Diário XIII

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cântico de Sangue

Se é certa, como dizes,
Ser chegada a hora vil de partir,
Certo é também, o momento em que fico aqui,
A admirar-te,
A absorver-te.
Há um lapso curvo e sideral no tempo
Onde me perco,
Onde a tua língua confunde os meus sentidos.
E, neste solene engano
Sobe por mim acima,
A vontade de remendar-te.
Ressoa implacavelmente,
Teu fino e acutilante timbre.
Quer rasgar,
Quer romper.
Hoje, elevo-me à indiferença,
E, quem na realidade bebe sangue,
Sou eu.


Retirado do Moleskine por Narrador
www.doalpendredestacasa.blogspot.com

Palavras

Andei indecisa quanto ao tema da crónica… Esteve sempre debaixo do meu nariz, na ponta dos meus dedos, nas palavras que todos os dias digo, escrevo e leio.
Pelas palavras vos chego, pelas palavras me exponho em cada semana. E pelas palavras me descobrem, pela maneira como as escolho, como as associo, como as faço transmitir aquilo que sinto e sou.
Dias há em que palavra nenhuma parece ser boa para nos traduzir, para nos conduzir onde queremos e precisamos do nosso silêncio para nos apaziguar, para nos organizar cá dentro as sílabas e não as deixar sair até que estejam maduras.
E o segredo do nosso sucesso reside na maneira como usamos as palavras, como as entrelaçamos, como as fazemos chegar aos outros. Podem ser porto de abrigo as nossas palavras e acolhe-los nas suas tempestades e serem agasalho, serem luz. Também podem ser punhais, como dizia o poeta, deixamo-las sair, como setas, por vezes atiramo-las, e elas batem em alguém, machucam, deixam marcas.
Geri-las de forma inteligente é o sonho de todos, uns porque falam demais, outros de menos, outros porque as palavras se lhes entaramelam na boca e parecem nunca corresponder àquilo que sentem e o abismo entre o dizer e o sentir é intransponível.
E depois há aquelas pessoas que comunicam sem palavras, que basta um olhar para tudo se saber, tudo se sentir.
Já disse coisas de que me arrependi, já me arrependi de não ter dito outras, como todos nós. Há dias em que falo como uma “matraca”, há dias em que necessito dos meus silêncios, para me desintoxicar, para organizar cá dentro a profusão de palavras com que diariamente somos bombardeados.
Palavra e silêncio…

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ne varietur

(um barco encalhado
na espuma do mar)

um silêncio furtado
na pressa de um olhar

(o teu ventre um abrigo
o teu peito um farol)

és campo de trigo
amadurecido ao Sol


escrito por Alexandre #
http://www.alexandre-monteiro.blogspot.com

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Amizade Estelar

(recreação sobre o poema com o mesmo título da autoria de Frederico Nietzsche)

Tu e eu, dois navios,
ocasionalmente aportados neste mesmo cais.
Nossos diários de bordo indicam
como pesa diferente
a carga que transportamos.
Como são opostos os destinos,
porventura é diferente também,
a forma como beijamos e acariciamos
as águas que nos sustentam.

Entre velhos lobos
neste mar das tormentas de nós,
há um código de amizade,
feito amor, feito abraço, solidariedade.
Há sinais por sobre as ondas,
silvos de entendimento,
âncoras de compreensão.

E mesmo que esteja escrito
que nossos navios seguem diferentes rumos,
suponhamos generosamente
que deus existe,
e criou uma estrela longínqua e brilhante,
que velará sobre nós
a atracção magnética
de uma amizade estelar.*

RAÍZ DE LADO NENHUM, Ed. «Tribuna do Algarve», Lagoa, 1992, pág.46
José Mendes Bota nasceu, em Loulé, em 4 de Agosto de 1955. É Licenciado em Economia, desempenhando actualmente o cargo de deputado à Assembleia da República e Presidente da Comissão Política Distrital do PSD de Faro. Entre as obras publicadas destacamos, no campo da poesia, Triângulos de Desespero (1987) e Raiz de Lado Nenhum (1992), e, no domínio da regionalização, Uma Voz do Sul na Europa (1994).

Vem lá a Primavera

Gosto de todas as estações do ano, a cada uma os seus encantos. Quando chegam, eu recebo-as com um sabor de novidade que se renova a cada ano, um prazer virginal em saborear as diferenças que a natureza nos proporciona.
A Primavera é, porém, especial, a minha chegada a este mundo está relacionada com ela por isso existirá sempre entre nós uma afinidade íntima, quase um laço de sangue.
Gosto deste cheiro a Primavera, deste sentir que a natureza se renova, destas temperaturas mais tépidas, do aligeirar das roupas, do cheiro do polén no ar.
Há uma promessa de regeneração...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Morangos com Chantilly

É oficial! Eu andava a adiar a coisa, mas... não resisti ! Abriu a época do morango com chantilly em minha casa. É que esta época antecede a da preparação para o bikini e as duas colidem um pouco, mas há prazeres a que não se resiste.
Portanto hoje lá segui o ritual: comprei uns morangos bem vermelhos, bem brilhantes, bem com ar "come-me", um pacote de natas frescas. Bati as natas, juntei uma porção de açúcar (grande), lavei os morangos, cortei-os.
Bem... Agora imaginem-me de frente para o meu castelo, a teclar e a deliciar-me... São pequenos prazeres que nos enchem de bem estar!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Raio de Sol

Está cinzento e chove e o meu castelo parece tristonho através das gotas de água... Mas o sol há um bocado brilhou e pareceu indicar que, mesmo nos dias mais cinzentos há sempre um raio de sol para nos alegrar, para nos mostrar o caminho, à laia de estrela dos reis magos.
E depois, se não houver raio de sol e hesitarmos no caminho, podemos sempre seguir o conselho da Susanna Tamaro:


"Quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar."

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Alerta Amarelo

De acordo com a previsão meteorológica hoje estamos em alerta amarelo... Chuva, vento, tempestades. Sabe-me bem hoje. Estamos em consonância.
Pode ser que, no meio das nuvens, por entre uma aberta, um raio de sol brilhe e venha direitinho a mim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Blogosfera

Confesso que já me era difícil passar sem a Internet, quando há qualquer problema com a net, fica assim tudo meio estranho cá em casa, tipo quando falta a água e a luz… Lembra-me que aqui há uns anos fiz uma viagem à Amazónia, a Porto de Mós do Brasil, entre outras terras, e ao visitar uma freguesia, que ficava à beira do rio Xingu, toda a gente se surpreendeu em como era possível, viver ali, na beira do rio, sem luz eléctrica, telefone, televisão, essas coisas que para nós são indispensáveis e na altura um dos anfitriões disse “a gente não sente falta do que nunca teve” e de facto assim é.
Todos os dias gosto de abrir os meus e-mails, falar no Messenger se tenho mais tempo e, sobretudo, consultar os meus blogues favoritos. Antigamente era muito difícil para quem gostasse de escrever ou opinar sobre os mais variados assuntos, partilhá-lo com alguém mais que o seu grupo restrito de amigos, hoje a Internet abre-nos a possibilidade de aceder ao mundo que cada um nos quer mostrar.
Deste modo há blogues para todos os gostos, e eu sou muito eclética nesse campo. Gosto de blogues ligados à política, sobretudo aqueles que dizem respeito à minha terra; gosto de blogues de poesia como o www.daspalavrasquenosunem.blogspot.com; de escrita mais intimista, como o www.umamoratrevido.blogspot.com; de crítica social e política www.31daarmada.blogs.sapo.pt e www.marretas.blogspot.com; depois há uns blogues com que me divirto muito: o do professor Júlio Machado Vaz www.murcon.blogspot.com; o www.internofeminino.blogs.sapo.pt, e o www.cenasdegaja.blogs.sapo.pt (este último a partir do qual já existem dois livros publicados, aborda o relacionamento homem/mulher, não é aconselhável a pessoas mais sensíveis, usa linguagem eventualmente chocante).
Cada um no seu estilo, faz parte dos meus hábitos de leitura. Uns fazem-me pensar, outros sonhar e outros rir, alguns tudo ao mesmo tempo! Disponíveis para nos surpreendermos, estaremos disponíveis para aprender.

Elogio ao Amor

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em 'diálogo'. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam 'praticamente' apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do 'tá tudo bem, tudo bem', tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso 'dá lá um jeitinho sentimental'. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.

Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A 'vidinha' é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra.

A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso (Crítico, escritor e destacado jornalista português, 1955- )

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

POR AZAR ENQUANTO FAZIA ZAPPING

acertei na sic notícias e tava lá sua excelência o senhor engenheiro primeiro ministro a dar uma espécie de entrevista mas cá pra mim aquilo tava tudo combinado co home até levava uns cartõezinhos com números e estatísticas pra responder às "perguntas" dos entrevistadores que às vezes até faziam umas perguntas a fugir pró impertinente mas sempre dentro da maior elevação e não sei se já repararam que cheguei até aqui sem meter uma puta duma vírgula um ponto final ou mesmo um parágrafo e isto tudo pra dizer que foi um galo do caraças que o que eu queria mesmo ver era o csi mas fiquei a olhar praqueles canastrões e o que mais me impressionou foi que sua excelência o senhor engenheiro primeiro ministro parece mas parece mesmo que acredita naquilo que estava a dizer e há gente internada no júlio de matos e no magalhães lemos com uns sintomas parecidos.
ANIMAL

www.marretas.blogspot.com

Sabores

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Iluminas-me. Emana de ti um calor que me cose o frio na barriga, quando te vejo ao longe e me rasgas o sorriso com uma precisão de bisturi. Então, refinam-se-me os sentidos e fico acutilante e desperta, a dar pelo cheiro a detergente nos umbrais, pelo brilho azulado da passadeira pintada de fresco, pelo vento aprisionado no redondo da praça e até por um milhafre perdido, que se debruça nas nuvens a tentar decifrar as copas nuas das árvores, os pespontos nos passeios, os fechos de correr das ruas. E o dia corre melhor. Gosto de te ter assim, como um sorvo rápido no intervalo dos dias ou a cigarrilha que te desaparece na boca enquanto me ouves ou finges: cabes-me na exacta medida desses poucos esplêndidos minutos. E gosto do à-vontade com que vês a minha vergonha dissolver-se lentamente no teu café. És promessa de escrita e o voo assarapantado das palavras dentro de mim, e só por isso valerias a pena. Às vezes, quando quase te pediria que ficasses, apetece-me guiar-te como se uma estrada secundária num princípio de Primavera e percorrer devagar as curvas do teu nariz que nunca cresceu. Há em ti um arremedo de tristeza que aposto se manifesta no escuro quando mais ninguém vê e que acrescenta em mim a vontade de te fazer festas e de te segredar intolerâncias ao ouvido, antes que descruzes as pernas, dobres o jornal e vás à tua vida. Iluminas, rasgas, aqueces, refinas, prometes, dissolves: um degrau lavado, uma lista branca, uma praça fechada sobre nós, a rapina de um bater de asas, uns minutos delicados, um passeio pelo teu corpo enquanto me mexes com a colher contra as paredes da tua chávena. E o dia corre melhor.


http://umamoratrevido.blogspot.com

domingo, 10 de fevereiro de 2008

umamoratrevido.blogspot.com

Confessa que já deste por ti a desenroscar frascos de shampô nas prateleiras do supermercado a ver se me encontravas lá dentro e que depois os fechaste apressadamente para que ninguém te visse e te sentiste um parvo, um tolo. E que mesmo depois de te teres sentido tolo continuaste inquieto porque não me descortinaste em nenhum daqueles cheiros e eu explico-te porquê: é que uso um amaciador diferente a cada vez que lavo os cabelos, jojoba, camomila, flor de hera, e às vezes ponho um creme nas pontas que tem coco ou gérmen de trigo, já nem sei, e espalho no fim um perfume fresco, limonado, especialmente quando faz sol, e que tudo isto se misturou com o suor que então se me derrapava pelo pescoço, eram os nervos, e que o cheiro, aquele em que te embebeste quando me agarraste na cabeça e a puxaste para ti, não o encontras dentro de frasco algum (só em mim).

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Nazaré - Autenticidade

Sermos nós, sermos genuínos é algo que vale a pena, que nos faz sentir bem, que nos posiciona no nosso lugar perante o mundo e os outros. Quem anda sempre a tentar ser o que não é ou a imitar os outros porque está na moda, ou por outros motivos, persegue uma quimera e nunca se sentirá bem ou terá os resultados pretendidos porque não dá a bota com a perdigota.
Estas frases valem não só para cada um de nós enquanto indivíduos, mas também para todos nós enquanto membros que integram grupos, regiões, um país e vêm a propósito do Carnaval, época que acabámos de viver. Sempre gostei de Carnaval, não do Carnaval do samba, mas daquele que associo à minha infância, ao Entrudo, às roupas trapalhonas, ao andar mascarado de casa em casa, recebendo chouriça e ovos com os quais se faziam patuscadas. Por circunstâncias várias da vida, há muitos anos que não contactava com a folia carnavalesca, os desfiles dos corsos nunca me atraíram muito também.
Numa destas noites de Carnaval fui à Nazaré, a convite de amigos (o que seria de nós sem os amigos? Quantas coisas ficaríamos por saber ou descobrir se nos fechássemos aos outros e à partilha!) e fiquei realmente surpresa! Pela positiva!
Assisti a uma “cegada”( uma espécie de rábula ao estilo da revista portuguesa, representada pela população da Nazaré), fui ao baile do “Mar Alte”, dancei a noite inteira sem ouvir uma música brasileira e ri a bom rir com as letras das marchas que tocavam em todo lado com letras e músicas nazarenas. Estas letras são por si só um espectáculo, escritas ao jeito do falar nazareno, relatando situações típicas, muitas vezes com tom humorístico, bem… Adorei.
Graças a Deus que as modas e a globalização não chegam a todo lado e há gente que preserva as suas raízes e tradições. Parabéns às gentes da Nazaré, por serem assim, autênticos, bairristas, genuínos.
Para o ano volto… Agora vou recuperar os pés!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Máscaras

Escrevo esta crónica a entrar no fim-de-semana de Carnaval, altura de folias, festas, divertimentos e às vezes excessos.
Eu acho piada ao Carnaval, não ao Carnaval de imitação brasileira, acho ao nosso Entrudo, à sátira social, aos nossos mascarados. Na Mendiga usava-se o termo “encaraçar-se”, nestas alturas os sótãos e arcas das nossas mães ficavam uma confusão. Encaraçávamo-nos rente à noite, em grupo, depois íamos de casa em casa e o divertimento consistia nas tentativas de adivinhação por parte das pessoas que nos abriam a porta. Davam-nos chouriça, ovos e no fim do serão em casa de um de nós, fazíamos uma patuscada.
Há quem não goste nada de Carnaval, como há quem não goste de Natal, há quem diga “mascarado ando eu todo ano”, e o pior é que é mesmo assim! Há gente que anda disfarçada a maior parte dos seus dias, escondendo-se dos outros, mascarando a sua essência, mudando de máscara, consoante as conveniências e os objectivos a atingir. O que vale para quem os rodeia é que quarta-feira de cinzas acaba sempre por chegar, ainda que demore tempo e haja gente magoada pelo caminho. Já todos cruzámos com pessoas assim - Ecoponto com elas!
Para quem se mascara para fugir de si próprio é que não há Ecoponto que valha…
Do que eu me fui lembrar…
Esta crónica é cinza… Quaresma, sobriedade… Lembra-te que és pó…

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:"Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?" "Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles. "Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?" Questionou novamente o pensador."Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou outro discípulo. E o mestre volta a perguntar:"Então não é possível falar-lhe em voz baixa?" Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.Então ele esclareceu: "Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?" O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar, apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas." Por fim, o pensador conclui, dizendo:"Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem,não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".

Mahatma Gandhi

Rir

Rir faz bem à alma! Eu gosto muito de rir e em minha casa rimos muito. O sentido de humor é fundamental e a capacidade de rirmos de tudo e especialmente de nós é uma ferramenta essencial para a vida. Por isso sempre incentivei essa capacidade nos meus filhos e agora tenho dois companheiros de sentido de humor apurado e com quem me divirto muito.
Esta semana ri muito à conta dum livro, o que já não me acontecia desde os meus tempos de adolescente quando lia os livros das Gémeas no Colégio das Torres. Quando digo rir, é rir à gargalhada, depois emprestei o livro ao meu filho e a cena repetiu-se.
O livro foi-me oferecido por um amigo, que o partilhou comigo, e eu cá estou a partilhá-lo convosco. O livro chama-se Wilt e o escritor é um humorista inglês chamado Tom Sharpe que nos conta a história de um homem de meia-idade, Wilt, sufocado pela rotina de uma vida que cada vez sente mais desprovida de significado e que vai ser posto à prova por uma sucessão de acontecimentos, no mínimo, rocambolescos. É um livro de fina crítica social, em que todos identificamos algo de nós ou de pessoas que conhecemos nas personagens que por lá se movimentam.
O livro põe-nos muito bem dispostos, aviso que existe algum português um pouco mais vernáculo pelo meio e que há situações que podem eventualmente chocar mentes mais sensíveis (assim já sei que muita gente vai a correr ler… acho que a publicidade aos livros devia ser tão agressiva como as de outros produtos!)
Aviso para não lerem o livro em público que é para não serem julgados como atrasados mentais, como me aconteceu a mim esta semana que o li na sala de espera da urgência pediátrica do Hospital de Leiria e onde, apesar do motivo que me lá levou, ri a bom rir, suscitando olhares reprovadores e curiosos. Já agora aproveito para elogiar o funcionamento desta urgência, assim dá gosto!
Finalmente… Riam! Esqueçam o “muito riso, pouco siso”, não faltam para aí estudos científicos a comprovar os benefícios do riso.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Vazios

Bem, hoje é que não faço ideia sobre aquilo que vou escrever… Observo a folha branca, espreito o castelo e nada! Tenho muitas ideias cá dentro, de coisas que vivi nesta semana, que sinto, mas nada me desperta a vontade de escrever. A minha folha é um enorme vazio, um pouco à semelhança da vida de muitos. Olhar para dentro e pensar no que falta é ver um branco maior que esta folha, ou um buraco negro…
Sai-se e entra-se em casa com o diabo do vazio às costas, trabalha-se, cumprem-se as rotinas, a vida tem um ar normal.
Conheço boa gente que, na ausência daquelas coisas que verdadeiramente enchem a vida de cor, se aturdem com muitas coisas pequenas, superficiais, correm, stressam, tudo para não terem tempo de pensar no que falta.
Preencher o vazio não é fácil. Ou porque implica revoluções que não há coragem de empreender, ou porque simplesmente nada há que pareça ser capaz de o ocupar.
Também há quem tenha a folha cheia de bonecos e cores e não lhe consiga descobrir beleza ou significado e tudo seja um frete permanente.
Tal como quase já enchi a minha folha sem dar por isso, também é fácil preencher vazios, sobretudo se isso depende da nossa vontade, tal como também é fácil perceber que por vezes a nossa vida já está preenchida, basta só valorizarmos o que temos.
Isso aprende-se, treina-se e quer-se. Basta mergulharmos em nós mesmos, à procura do nosso eu mais recôndito e ele preencher-nos-á.
Ás vezes é preciso um grande encontrão da vida para saborearmos cada aroma, cada brisa, cada momento e redescobrirmos o prazer de simplesmente viver… Não esperemos pelos encontrões, o tempo é precioso.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Pijaminha

Penso que sabem o que é um pijaminha… Sem ser a peça de roupa que todos conhecemos, é algo que se usa nalguns restaurantes, em vez de uma sobremesa só, vem um prato com uma amostra de várias sobremesas diferentes. Bem, hoje a minha crónica vai ser um pijaminha de assuntos, abordados de forma breve.
Começo pela ASAE… Sou a favor das fiscalizações, da higiene e existiam lacunas graves nesse âmbito, mas agora parece-me que estamos a cair no extremo oposto! A coisa está a chegar a um pormenor e grau de exigência que raia o inquisitorial… Este Verão lá se foram as bolas de Berlim com creme e por este andar…
Os fumadores… Nunca fumei, o fumo incomoda-me nalgumas circunstâncias para além de fazer mal à saúde, mas esta lei parece-me um pouco extremista. Vejo na minha escola os meus colegas no portão a fumar, juntamente com os alunos fumadores e francamente não me parece bem…
Aliás em ambos os casos atrás abordados as ideias que estão na origem são boas e eram necessárias medidas, os extremismos é que as adulteram como em tudo na vida, veja-se o futebol, a política, a religião.
Quase a terminar, o BCP e o novo aeroporto em Alcochete… Não abordo aqui a qualidade das soluções escolhidas, mas ao nível dos processos… Que embrulhada, que desperdício de dinheiro, que pouca-vergonha!
Termino de forma um pouco mais cor-de-rosa… Sarkozy e Carla Bruni, um dos pares mais mediáticos do momento, conheceram-se em Novembro e casaram esta semana, l’amour! Tudo profusamente documentado na imprensa… Não posso deixar de me lembrar do secretismo de Miterrand, cuja filha ilegítima a imprensa só noticiou já esta era maior de idade, de acordo com a sua vontade. Eram tempos diferentes… as vidas privadas eram-no mais, a imprensa noticiava outras coisas e as pessoas não estavam tão ávidas de aparecer. Mudam-se os tempos…

Histórias

Há acontecimentos e factos históricos de que sempre ouvimos falar, cuja importância conhecemos, mas cuja dimensão real nos passa ao lado, porque nunca lhe demos grande atenção, porque nunca reflectimos sobre eles. Muitas vezes porque não calhou, não houve aquele elemento desencadeador de tal interesse…
Aconteceu-me isso há uns anos, por exemplo, com a Batalha de Aljubarrota, ocorrida no meu concelho. Só tive percepção da sua grandiosidade e importância quando ela me foi explicada, de forma apaixonada, por um entusiasta: O Director do Museu Militar de S.Jorge. O segredo de cativar os outros para o que quer que seja é mesmo esse: falar e fazer aquilo que se ama.
Vem isto a propósito do livro que leio agora “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre sobre a colonização do Brasil. Sobre este assunto sabia o que é trivial saber-se, não sendo professora de história… Mas aquilo que à partida me parecia um livro um pouco seca, desculpem a expressão, afinal… Fez-me reflectir sobre as nossas origens enquanto povo e no porquê do sucesso da colonização de um país imenso onde cabem não sei quantos Portugais, quando nós não passávamos de meia dúzia de gatos pingados…
Através da curiosidade, do estudo e da reflexão é que aprofundamos o nosso conhecimento sobre o mundo, nós e os outros. Para isso é preciso tempo e vontade e hoje em dia é tudo tão rápido e a malta gosta de coisas já mastigadas, que é como quem diz, que não obriguem a pensar muito e depois há livros com muitas letras e tão miúdas!
Fiquei a saber que o sucesso da nossa colonização assentou na nossa mobilidade, na nossa aclimatibilidade (afinal estamos perto de África), na miscigenação que de imediato se iniciou e iniciou-se porque, de acordo com o sociólogo, não havia no português a rejeição à pele escura… o fascínio da moira encantada, mulher de pele morena, olhos e cabelos escuros ainda pairava…E muito mais.
Já excedi os caracteres e ainda falta a conclusão… A curiosidade é meio caminho andado para o conhecimento. A reflexão faz o resto. E mais não cabe.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

EmTiEmNós

Fio de cores. Nas minhas mãos. Pousados.
Soltos por entre os dedos em direcção a ti.
Entrelaçados por entre o sonho de um rio corrente e um futuro presente.
Embriagados no nosso leito sempre tão desfeito...
Agarro as cores. Nas minhas mãos. À tua espera.
Na ventania de cada momento sem ti.
Como quem desespera sem poder gritar e se faz mar.
Na penumbra da Primavera onde tudo de novo vai voltar...
Solto as cores na brisa. Por nós.
Caminho-me em direcção a mais uma vertigem, mais uma foz.
Sento-me e deito-me perante cada momento. Às voltas. Por entre os nós...

Pedro Branco

sábado, 5 de janeiro de 2008

"Better than sex"

A conselho e empréstimo de uma amiga, vi esta semana um filme chamado “Better than sex”, uma produção independente australiana que aborda uma história banalíssima, original como a humanidade: um homem e uma mulher conhecem-se numa festa e nessa mesma noite, têm sexo, vão para a cama, fazem amor, enfim, escolham a expressão que mais vos aprouver.
A história é simples e reproduz uma realidade que é cada vez mais comum. Cada vez mais homens e mulheres vivem sozinhos (não escalpelizando aqui os motivos), cada vez mais existem estas situações de “one night stand”, pessoas que se conhecem na rua, na noite, no trabalho, têm sexo e vai cada um à sua vida. Ou não.
As coisas não são assim tão simples… Nem no filme, nem na vida real! No filme aquilo que era suposto ser um encontro sem continuação entre duas pessoas solitárias, revela-se um encontro de duas solidões, que descobrem precisar mais que uma satisfação imediata de desejos básicos.
Tudo depende daquilo que cada um precisa para ser feliz…. E se o sexo por si só é uma das condições necessárias ao bem-estar humano, nós somos muito mais que carne…
Enquanto escrevo esta crónica ouço a velhinha música da Rita Lee “Amor e Sexo” e de facto, se muitas vezes os relacionamentos ainda seguem os trâmites tradicionais de empatia, conhecimento, amor e depois sexo, cada vez mais o modelo é, como canta a brasileira “Sexo primeiro, amor depois”.
Nestes domínios cada um sabe de si… e muito mais haveria a dizer…

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Amor

Corre-me o sangue no peito
Das teias de paixões e desertos
Aconchego-me ferido e desfeito
Onde todos os longes são pertos.

Navego-me nas melodias das ondas na areia
Das ventanias e brisas de mim
Mesmo cá dentro, muito cá dentro, no fundo da nossa teia
Saberemos fazer de cada silêncio um jardim

Pedro Branco