Manhã de Verão na cidade. Ar ainda fresco a adivinhar o calor da tarde. Na esplanada leio o jornal e observo as pessoas que vão e vêm.
Chega uma mulher, na casa dos sessenta. Arranjada. Com as suas compras na mão. Senta-se e pede um café.
Leio mais um pouco. Levanto a cabeça e apercebo-me que fala em voz baixa com um senhor. Talvez da mesma idade. Arranjado também.
Ouço a conversa… Estás tão giro! Tinha saudades tuas! Vamos à praia? Anda! Vamos jantar fora, vamos sair… Queres passar o fim-de-semana fora? Tudo isto intercalado com meiguices, olhares, uma voz sussurrante… Estás tão bem! Nem parece que tens setenta anos! Anda, há quanto tempo não me ligas?
O objecto de tanta devoção, um galã com ar de Tony de Matos, ia dizendo não a todos os ternos convites feitos de mãos nas mãos… Não posso! Estás doida, não posso! À suave recriminação da ausência de chamadas, puxou do telemóvel e mostrou… Vês? Liguei-te às tantas horas e não atendeste… Ela diz que não, impossível, pega no telemóvel dele para confirmar… Ligaste para uma Maria e para uma... Quem são? No mesmo tom de voz, sedutor, baixo… O telefone volta à procedência. Anda vem levar-me as compras a casa… Que não, que não podia! Anda faz a tua boa acção do dia… E lá foi com as compras, não sem antes de se ter voltado um olhar maroto para trás, para mim e um meio sorriso.
A solidão ronda por aí. Temos telemóveis, internet, televisão, mil e uma maneiras de nos ocuparmos, mas na verdade nada substitui o calor de um outro, a inflexão na voz de alguém que escutamos, a chispa num olhar onde nos reflectimos.
Passei na segunda à noite no IC2 junto a uma danceteria famosa da praça. Uma quantidade imensa de carros. Local de espantar a solidão, de socializar à moda antiga… A menina dança? Há sempre quem dance… Talvez a tal senhora lá vá… Talvez lá tenha conhecido o galã… Talvez…
(crónica publicada no Região de Leiria de 24/7/09)
domingo, 26 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Prémio Lemniscata
"Cá estou eu, o Paulo da Batalha, do Centopeia , e acabo de presentear o seu blog com o Prémio Lemniscata.O testemunho foi-me passado pelo escritor Rui Herbon, pelo meu blog livrodeanuncios.blogspot.comVeja como dar seguimento ao prémio no meu blog.Esta não é a melhor maneira de lhe fazer chegar o prémio, mas foi a que encontrei. Já sou um assíduo visitante do seu blogue."
Paulo... Help! E agora?
Paulo... Help! E agora?
Chuva de Verão
na chuva que molha o Verão
sopra a coluna de vento
desalinha-me por dentro...
no abrigo dos dedos
desaparecidos os medos
esquecidas as palavras
somos textos de sentires
pontuação embrulhada
em risos, olhos e nada...
Nada?Tanto!
sopra a coluna de vento
desalinha-me por dentro...
no abrigo dos dedos
desaparecidos os medos
esquecidas as palavras
somos textos de sentires
pontuação embrulhada
em risos, olhos e nada...
Nada?Tanto!
terça-feira, 21 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
tristeza
escorre-me dos dedos esta tristeza
gela estas palavras...
sólidas
tais colunas alinhadas
contra as quais me desencontro
e me desconjunto
deixo-as aqui e vou...
levo a tristeza.
gela estas palavras...
sólidas
tais colunas alinhadas
contra as quais me desencontro
e me desconjunto
deixo-as aqui e vou...
levo a tristeza.
Pelo sonho é que vamos...
Cheguei de viagem por estes dias. Não escolhi o destino, esse foi escolhido há três anos pelos alunos da minha direcção de turma, para a sua viagem de finalistas.
O destino que escolheram foi Paris e eu encolhi o nariz, por vários motivos. Primeiro porque já tinha ido por outras vezes e depois porque me pareceu pouco provável que conseguissem reunir a verba necessária. Então disse-lhes que primeiro iríamos trabalhar e depois, consoante o dinheiro apurado, se decidiria o destino, mas sempre com muitas dúvidas que conseguissem.
Durante três anos, afincadamente, persistentemente, trabalharam. Venderam bolos todos os dias na escola, pagaram uma semanada de 0,50 €, fizeram cabazes de Natal e tantas outras actividades aparentemente irrisórias perante um objectivo imenso.
Já aqui escrevi por algumas vezes acerca do enquadramento sociocultural da escola onde trabalho, local muito desfavorecido em termos culturais e económicos. São alunos que só acedem à cultura ou aos grandes centros urbanos através da escola e das suas actividades, cujos pais não teriam possibilidade de proporcionar uma tal viagem.
Chegados ao meio deste ano lectivo percebemos que o sonho estava a um passo de se realizar… E aconteceu agora!
Por isso, quando chegaram a Paris diziam não acreditar estar lá e olhavam para tudo com o fascínio de quem sonhou tanto e tanto tempo com algo que, quando consegue parece não acreditar.
Por isso choraram de emoção nalguns momentos, porque cada coisa que visitaram ou fizeram foi sonhada e conseguida por eles.
E eu senti-me agradecida e visitei Paris com o mesmo entusiasmo da primeira vez, porque o vi de novo pelos seus olhos e pela sua alegria. Senti que, qualquer que seja o futuro, este presente que já é passado no momento em que escrevo, será património indelével de todos.
Sei que cada um deles, ao longo das suas vidas, terá presente a sua capacidade de realizar os seus sonhos se for persistente, se trabalhar. Talvez esta seja a melhor lição que aprenderam na escola.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Paris... Ao fundo da rua
terça-feira, 7 de julho de 2009
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