sábado, 26 de janeiro de 2008

Vazios

Bem, hoje é que não faço ideia sobre aquilo que vou escrever… Observo a folha branca, espreito o castelo e nada! Tenho muitas ideias cá dentro, de coisas que vivi nesta semana, que sinto, mas nada me desperta a vontade de escrever. A minha folha é um enorme vazio, um pouco à semelhança da vida de muitos. Olhar para dentro e pensar no que falta é ver um branco maior que esta folha, ou um buraco negro…
Sai-se e entra-se em casa com o diabo do vazio às costas, trabalha-se, cumprem-se as rotinas, a vida tem um ar normal.
Conheço boa gente que, na ausência daquelas coisas que verdadeiramente enchem a vida de cor, se aturdem com muitas coisas pequenas, superficiais, correm, stressam, tudo para não terem tempo de pensar no que falta.
Preencher o vazio não é fácil. Ou porque implica revoluções que não há coragem de empreender, ou porque simplesmente nada há que pareça ser capaz de o ocupar.
Também há quem tenha a folha cheia de bonecos e cores e não lhe consiga descobrir beleza ou significado e tudo seja um frete permanente.
Tal como quase já enchi a minha folha sem dar por isso, também é fácil preencher vazios, sobretudo se isso depende da nossa vontade, tal como também é fácil perceber que por vezes a nossa vida já está preenchida, basta só valorizarmos o que temos.
Isso aprende-se, treina-se e quer-se. Basta mergulharmos em nós mesmos, à procura do nosso eu mais recôndito e ele preencher-nos-á.
Ás vezes é preciso um grande encontrão da vida para saborearmos cada aroma, cada brisa, cada momento e redescobrirmos o prazer de simplesmente viver… Não esperemos pelos encontrões, o tempo é precioso.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Pijaminha

Penso que sabem o que é um pijaminha… Sem ser a peça de roupa que todos conhecemos, é algo que se usa nalguns restaurantes, em vez de uma sobremesa só, vem um prato com uma amostra de várias sobremesas diferentes. Bem, hoje a minha crónica vai ser um pijaminha de assuntos, abordados de forma breve.
Começo pela ASAE… Sou a favor das fiscalizações, da higiene e existiam lacunas graves nesse âmbito, mas agora parece-me que estamos a cair no extremo oposto! A coisa está a chegar a um pormenor e grau de exigência que raia o inquisitorial… Este Verão lá se foram as bolas de Berlim com creme e por este andar…
Os fumadores… Nunca fumei, o fumo incomoda-me nalgumas circunstâncias para além de fazer mal à saúde, mas esta lei parece-me um pouco extremista. Vejo na minha escola os meus colegas no portão a fumar, juntamente com os alunos fumadores e francamente não me parece bem…
Aliás em ambos os casos atrás abordados as ideias que estão na origem são boas e eram necessárias medidas, os extremismos é que as adulteram como em tudo na vida, veja-se o futebol, a política, a religião.
Quase a terminar, o BCP e o novo aeroporto em Alcochete… Não abordo aqui a qualidade das soluções escolhidas, mas ao nível dos processos… Que embrulhada, que desperdício de dinheiro, que pouca-vergonha!
Termino de forma um pouco mais cor-de-rosa… Sarkozy e Carla Bruni, um dos pares mais mediáticos do momento, conheceram-se em Novembro e casaram esta semana, l’amour! Tudo profusamente documentado na imprensa… Não posso deixar de me lembrar do secretismo de Miterrand, cuja filha ilegítima a imprensa só noticiou já esta era maior de idade, de acordo com a sua vontade. Eram tempos diferentes… as vidas privadas eram-no mais, a imprensa noticiava outras coisas e as pessoas não estavam tão ávidas de aparecer. Mudam-se os tempos…

Histórias

Há acontecimentos e factos históricos de que sempre ouvimos falar, cuja importância conhecemos, mas cuja dimensão real nos passa ao lado, porque nunca lhe demos grande atenção, porque nunca reflectimos sobre eles. Muitas vezes porque não calhou, não houve aquele elemento desencadeador de tal interesse…
Aconteceu-me isso há uns anos, por exemplo, com a Batalha de Aljubarrota, ocorrida no meu concelho. Só tive percepção da sua grandiosidade e importância quando ela me foi explicada, de forma apaixonada, por um entusiasta: O Director do Museu Militar de S.Jorge. O segredo de cativar os outros para o que quer que seja é mesmo esse: falar e fazer aquilo que se ama.
Vem isto a propósito do livro que leio agora “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre sobre a colonização do Brasil. Sobre este assunto sabia o que é trivial saber-se, não sendo professora de história… Mas aquilo que à partida me parecia um livro um pouco seca, desculpem a expressão, afinal… Fez-me reflectir sobre as nossas origens enquanto povo e no porquê do sucesso da colonização de um país imenso onde cabem não sei quantos Portugais, quando nós não passávamos de meia dúzia de gatos pingados…
Através da curiosidade, do estudo e da reflexão é que aprofundamos o nosso conhecimento sobre o mundo, nós e os outros. Para isso é preciso tempo e vontade e hoje em dia é tudo tão rápido e a malta gosta de coisas já mastigadas, que é como quem diz, que não obriguem a pensar muito e depois há livros com muitas letras e tão miúdas!
Fiquei a saber que o sucesso da nossa colonização assentou na nossa mobilidade, na nossa aclimatibilidade (afinal estamos perto de África), na miscigenação que de imediato se iniciou e iniciou-se porque, de acordo com o sociólogo, não havia no português a rejeição à pele escura… o fascínio da moira encantada, mulher de pele morena, olhos e cabelos escuros ainda pairava…E muito mais.
Já excedi os caracteres e ainda falta a conclusão… A curiosidade é meio caminho andado para o conhecimento. A reflexão faz o resto. E mais não cabe.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

EmTiEmNós

Fio de cores. Nas minhas mãos. Pousados.
Soltos por entre os dedos em direcção a ti.
Entrelaçados por entre o sonho de um rio corrente e um futuro presente.
Embriagados no nosso leito sempre tão desfeito...
Agarro as cores. Nas minhas mãos. À tua espera.
Na ventania de cada momento sem ti.
Como quem desespera sem poder gritar e se faz mar.
Na penumbra da Primavera onde tudo de novo vai voltar...
Solto as cores na brisa. Por nós.
Caminho-me em direcção a mais uma vertigem, mais uma foz.
Sento-me e deito-me perante cada momento. Às voltas. Por entre os nós...

Pedro Branco

sábado, 5 de janeiro de 2008

"Better than sex"

A conselho e empréstimo de uma amiga, vi esta semana um filme chamado “Better than sex”, uma produção independente australiana que aborda uma história banalíssima, original como a humanidade: um homem e uma mulher conhecem-se numa festa e nessa mesma noite, têm sexo, vão para a cama, fazem amor, enfim, escolham a expressão que mais vos aprouver.
A história é simples e reproduz uma realidade que é cada vez mais comum. Cada vez mais homens e mulheres vivem sozinhos (não escalpelizando aqui os motivos), cada vez mais existem estas situações de “one night stand”, pessoas que se conhecem na rua, na noite, no trabalho, têm sexo e vai cada um à sua vida. Ou não.
As coisas não são assim tão simples… Nem no filme, nem na vida real! No filme aquilo que era suposto ser um encontro sem continuação entre duas pessoas solitárias, revela-se um encontro de duas solidões, que descobrem precisar mais que uma satisfação imediata de desejos básicos.
Tudo depende daquilo que cada um precisa para ser feliz…. E se o sexo por si só é uma das condições necessárias ao bem-estar humano, nós somos muito mais que carne…
Enquanto escrevo esta crónica ouço a velhinha música da Rita Lee “Amor e Sexo” e de facto, se muitas vezes os relacionamentos ainda seguem os trâmites tradicionais de empatia, conhecimento, amor e depois sexo, cada vez mais o modelo é, como canta a brasileira “Sexo primeiro, amor depois”.
Nestes domínios cada um sabe de si… e muito mais haveria a dizer…

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Amor

Corre-me o sangue no peito
Das teias de paixões e desertos
Aconchego-me ferido e desfeito
Onde todos os longes são pertos.

Navego-me nas melodias das ondas na areia
Das ventanias e brisas de mim
Mesmo cá dentro, muito cá dentro, no fundo da nossa teia
Saberemos fazer de cada silêncio um jardim

Pedro Branco