segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Encerrramento

Último dia do ano. É incrível como os minutos, as horas, os dias, os meses e finalmente os anos se sucedem tão rapidamente.
Aqui nesta última manhã fria de Dezembro, frente ao meu castelo, penso nas coisas que me foram acontecendo neste tempo... Umas esperadas, outras inesperadas, umas boas, outras menos boas.
Mas todas muito importantes.
Gosto de viver, de rir, de saborear a vida, de a ver pelo seu aspecto mais positivo. Por isso 2007 foi um bom ano! Carpe Diem!
E 2008 vai ser concerteza melhor!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Frontal...

Pensei muito antes de postar este texto, há algum tempo que aqui anda a aguardar... Porque o vocabulário é cru, é directo, é quase obsceno... Mas gosto tanto dele, acho que está tão bem escrito, é tão verdadeiro! Aqui fica... as minhas desculpas se chocar...




Todos os filhos da puta têm um nome.
Porque se chama puta à mãe se o sacana é o filho?
Por isso digo:Todos os sacanas têm um nome!
E mães que podem ou não ser putas que pariram um sacana.
Não é socialmente aceitável, correcto
Falar com putas
Mas é-se amigo de sacanas.
Evitam-se as putas na rua
Recebem-se os sacanas em casa.
Se a cara do sacana reflectisse o que ele é,
Como o corpo da puta denuncia o que ela faz.
Não evitaríamos,
Atiraríamos pedras,
Construiríamos guetos para sacanas?
O problema é esse!
É que ser puta é uma máscara e ser sacana vem de dentro.
Eu prefiro estar rodeada de putas
A cruzar-me com um sacana.

Encandescente (Poetisa e escritora criadora do blog Erotismo na Cidade), publicado a 19-09-2006.

Quero definir-te o que é este sentimento....

Quero definir-te o que é este sentimento:

o que pertence à esfera daquilo que a razão

não domina,ou simplesmente nasce da noite,

e de tudo o que a envolve. Falo de uma

íntima relação entre os seres, de emoções

que se transmitem para além de palavras e

conceitos, de um encontro de corpos na

esfera do segredo. Dir-me-ás: "Para que

precisas de uma explicação para o amor?"

Mas é a sua inutilidade que me interessa;

a dádiva, o simples dizer que as coisas são

assim porque são, e para além disso tudo

se complica. Podes, então, rir do que te

digo; ou simplesmente dizer-me que as

palavras nada substituem, e que tudo o que

elas nos dão está a mais. Mas o amor

pertence-nos. Não o podemos deitar fora;

nem fingir que não existe, como não existe

o infinito, a transcendência, a abstracção

ivina, para quem só crê no concreto.

Éverdade que o amor não se vê: o que vejo

são os teus olhos, a ternura súbita das

suas pálpebras, e o que elas abrem e

escondem numa hesitação de luz.

Eis, então,o que define este sentimento:

um intervalo,uma distracção do tempo,

a divina abstracçãodo infinito

na transcendência do real.





Nuno Júdice (Escritor e Poeta português, 1949- )

Chico Buarque define solidão

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... I
sto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto e circunstância!

Solidão é muito mais do que isto...SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.


Chico Buarque (Poeta, compositor, cantor brasileiro, 1944- )

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.


David Mourão-Ferreira (Poeta português, 1927-1996)

sábado, 15 de dezembro de 2007

Presentes e ausentes

Hoje lá aproveitei a minha tarde livre para ir comprar os presentes de Natal da praxe. Poderia fazer aqui uma dissertação sobre os estafados lugares comuns do consumismo, do que se gasta em prendas e bens supérfluos quando há tantos que nada têm, do que se dá em bens materiais, quando se falta na dádiva de outras coisas essenciais que o dinheiro não compra. Já há pouca pachorra para repetir as mesmas conversas de sempre contra os hábitos da quadra natalícia, até porque muitas vezes as condenações destes hábitos são mais para inglês ver.
Eu cá por mim, nestas coisas, sou algo pragmática… Gosto pouco de comprar presentes em datas marcadas, mas lá tem que ser, só compro presentes para a minha família do coração, ou seja, para os que amo, sejam ou não da família… Gosto de os ver abrir, de ver nos olhos das crianças o prazer ansioso, enquanto se rasga o papel, enfim fico feliz com o seu prazer.
Grave é quando, ausentes dos que amamos nos gestos mais simples e diários, nos queremos tornar presentes através de prendas cujo preço é muitas vezes inversamente proporcional à ternura e aos mimos que não demos.
Grave é quando não conseguimos deixar de olhar para o nosso umbigo e ver mais além, não precisa de ser para África ou qualquer país miserável longínquo, a falta do que é essencial existe à nossa porta, às vezes dentro da nossa casa.
Que se comprem prendas, mas que não se perca a capacidade de estarmos e sermos presentes na vida dos outros… Às vezes basta um sorriso, uma atenção, uma palavra e somos a prenda no sapatinho de alguém.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Era uma vez...

Gosto de ler, já o tinha dito aqui, quando me apresentei. Os livros abrem-nos as portas para mundos e pessoas, obrigam-nos a pensar, a imaginar e a sentir. Às vezes, quando lemos um livro, sentimos uma empatia especial, identificamo-nos com algum personagem, sentimento ou situação e ficamos com ele guardado cá dentro.
Os livros especiais gosto de os partilhar com os amigos, aconselho-os, ofereço-os e fico muito curiosa à espera da opinião de quem lê para saber se teve o mesmo prazer que eu.
Um dos livros que mais me marcou foi “As velas ardem até ao fim” de Sandor Marai, é dos tais livros de uma vida, onde ainda volto, de vez em quando, em momentos de reflexão. Lembrei-me dele hoje, porque leio “A Mulher Certa”, o seu último livro publicado cá. Só tenho uma palavra… Fabuloso.
Pode ser que ande aí alguém indeciso com as leituras ou com os presentes… fica em jeito de sugestão, e terei todo o gosto em saber se gostaram ou não.
A realidade é infinitamente mais rica que a literatura, mas quem não gosta de ler perde a oportunidade de apreender essa realidade em aspectos que nunca sonhou, viajar dentro de si através dos sentimentos e viagens dos outros, no fundo, interrogar-se e conhecer-se.
Fomentar o gosto pela leitura é obrigação de todos, citando Inês Pedrosa “ o amor à poesia não se aprende – nada do que é verdadeiramente fundamental na vida se aprende – mas pode contagiar-se”.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Lágrima

Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de querer tanto

Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Eu não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo

Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estando o meu xaile
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar



Amália Rodrigues (Fadista e poetisa portuguesa, 1920-1999)