sexta-feira, 27 de junho de 2008

Plenitude

Há dias assim
Em que cada coisa do universo
Parece que começa e termina em mim

Não há princípio nem meio nem fim
há apenas um sentido de pertença
de integração
de comunhão

E tudo está exactamente onde devia estar
Aquela música que toca
O céu estrelado
O frescor da noite que me invade
O cheiro que me deixaste

Maresia nocturna
Voa-me ao mar
Sê barco em mim
eu quero remar
e perder-me na miragem

Hoje sou viagem.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Ao longe

Chegas-me nesse som de longe...
Odores que flutuam...
Sinto-os nas minhas mãos,
Roçam a minha alma...

Quisera ser palavra
Estar sempre na tua boca
Quem me dera ser inteira
Excessiva, audaz, louca

Como limite o intangível
Coração que não tem freio

Não há longe assim em nós
Pelo ar nos unimos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Silêncio

Hoje não me apetecem palavras
Estou farta de palavras!

Quero falar com o silêncio
Ouvir o rumorejar dos meus pensamentos
o escoar das minhas mágoas

Quando bateres à minha porta
Interrogar-te-ei com o olhar

Não digas nada
...

Oa teus olhos saberão falar.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Chuva

Agora que a chuva veio e nos molhou
vimo-nos assim:
os nossos corpos revelados

os nossos olhos difusos
perdidos
saudosos do calor

Vem Tempo!
Sopra-nos...
desfolha o nosso íntimo

E as nossas penas serão
leves
breves
como o canto das aves do paraíso.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Prosa

Hoje apetecem-me frases corridas, hoje os versos parecem-me pequenos para levarem tudo o que sinto, hoje apetece-me falar da vida;
Hoje apetece-me dizer que gosto de me levantar e ficar um pouco no silêncio a ouvir a rua lá fora a mexer, enquanto eu me preparo para a enfrentar;
Hoje apetece-me dizer que é muito bom sentir que é só mais um dia e que amanhã vem outro em que poderei desfazer o que menos bom acontecer, ou fazer melhor;
Hoje apetece-me dizer que aqueles morangos vermelhos que tenho ali na cozinha exalam um cheiro fabuloso e que logo, quando entrar em casa e sentir o meu reduto, me deliciarei a comê-los e pensarei em como sou afortunada;
Hoje apetece-me dizer que os meus filhos já sairam e deixaram tudo desarrumado, mas que é bom senti-los algures, a crescerem, a serem aquilo que são, uns seres humanos fabulosos e agradecer cada dia que me é dado com eles;
Hoje apetece-me dizer que o que é banal e comezinho encerra a essência da nossa vida ...
Hoje apetece-me dizer que no nosso olhar sobre o mundo está o segredo das coisas, hoje apetece-me que a água escorra dos meus olhos e lave as mágoas porque às vezes faz bem e tudo fica mais claro.


Hoje vou viver, porque gosto, porque amanhã não sei...