segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Serena

venham tempestades
venham torrentes
venham ventanias
venham tremores


eu estou aqui
agarrada ao cais

nada mais importa.

permaneço
 e sou.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Estertor.

um dia
percebemos
que estamos moribundos na praia

até das ilusões nos despimos


e

à mercê dos elementos


agonizamos.

sábado, 25 de setembro de 2010

Tristeza

maré alta
desta tristeza
que me navega sem fim

nasce dos olhos
e volta
toma-me inteira
a mim.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fernão de Magalhães




Colinas, vinhas, terra


touriga, casta e raça


mar de mosto


que te enrolou




marulhar longínquo


rapariga,riqueza, requebro


que te levou




Partiste. Circulaste o mundo.




E hoje aqui, perante estas pedras sinto-te.


Maior que tu.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

balas

inspiro, expiro
inspiro, expiro
inspiro, expiro
inspiro, expiro
engulo as palavras
com força
empurro-as para baixo
para baixo
teimosas
seriam balas
assim
só ar comprimido
que parece rebentar

talvez saiam pelos olhos
e
matem.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

insónia

o raio do sono foi-se
e voltei aqui...

não me tem apetecido
desnudar-me nas palavras.
ensinaram-me a cobrir o corpo
e a alma, essa então, debaixo
de roupas polares
mal se entrevê...

quem se contenta com pouco
que viva do que aparece
e do que parece.
eu é mais do que me apetece...

E hoje apetece-me escrever
é o striptease após a ausência
quem busca interpretações
abstracções ou conexões
ou até pistas para as mais variadas conclusões

Esqueça!


São só umas palavrinhas
aqui alinhadas
à laia de história de embalar
à espera dum sono por chegar...

Vinda

sobem por mim
pensamentos que se enrodilham
assim
na tua ausência

e feitos palavra
que irrompe no silêncio sonoro
do dia corrido e da noite calada

eu e a palavra feita poesia
sempre reencontradas

mesmo quando não formuladas.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Resposta ao Conservador

Os dias que nos escrevem trouxeram-nos aqui
neste cais de barcos embrulhados em palavras
mas que miram o infinito, prenhes de horizonte

apertado o leme
definimos a rota
e nos mapas embutidos no peito
traçamos caminhos com os dedos...

nas borrascas fito o além..
caminhos sempre incertos
juncados de vento e medos.

Ah esta alma de marinheiro
sedenta de espuma e bem!

Volta

venho de longe
venho dos sítios breves
venho dos dias cansados
venho das noites curtas

voltei às palavras partilhadas
às sílabas intercaladas
em pensamento e silêncio.

deixem-me cultivar o tempo
das cerejas rubras
das águas plácidas
das alfazemas perfumadas

aí me derramarei
e nada mais serei
que um leve odor
que paira no ar.