domingo, 30 de março de 2008

Checklist...

Se soubesse pôr, punha aqui uma bolinha vermelha no canto superior deste post...
Já sabem que eu não leio só o meu blog... Gosto de andar por aí à descoberta e nos meus favoritos tenho um blog que me faz rir muito e rir faz muuuuuuito bem. É escrito por duas senhoras do Porto, portanto a linguagem pode ser assim, digamos... um pouco vernácula, lamento se for chocante! Se nunca mais cá vierem... paciência!
Este texto que retirei de lá é uma checklist dos defeitos que os homens não podem ter, segundo as duas senhoras que fazem o blog...




"- Pêlos a sair das orelhas....foda-se!!!! Horrível.....alguma vez as lambia??? O gajo até parece giro e tal mas vira-se e zás! A puta da pica cai a pique com tamanha pentelheira a sair do tímpano.
- Dentes podres ou amarelados, dá logo ar de quem passou a vida a limpar a sanita com a língua e nem me estico mais que já estou com náuseas....
- Camisa aberta tendo pêlos no peito, tipo Zézé Camarinha! Ainda por cima se for adornado de um colar grosso de prata....hehehehe. No outro dia vi um gajo, que além dos pêlos no peito e do fio ainda tinha borbulhas amarelas prontas a explodir! Lindo!
- Coçar os tomates em público!!! Eu sei que têm comichão e que é fodido. Mas nós também temos comichão na parreca e não nos coçamos em público! Havia de ser bonito se me lembrasse de coçar a crica..... Local de trabalho, eu encostava-me pra trás, abria as pernas e coçava a micose...lol
- Voz de pito. Esta a mim é mesmo daquelas merdas que me faz dizer "oh foda-se, tavas a ir tão bem". Há-os tão lindos e quando abrem a boca, puta que os pariu...parecem galinhas ou o caralho.... Sei que não têm culpa......Mas que tira a vontade de foder, Tira!!
- Gabarolas. Com estes há que desconfiar! Quem é realmente bom não precisa de publicidade...
- Cabelos oleosos. Há montes de shampôs que tratam dessa merda. Não há desculpa.
- Mau hálito. Comprem pastilhas elásticas, rebuçados ou o caralho mas faxavor de não mandar com a vossa halitose pra cima da gente...
- Unhas dos pés grandes....deve ser bonito ser arranhada por uma daquelas garras no meio do acto...deve, deve!!!! Tou mesmo a vêr, "rasgou-se o preservativo"..."pois, deve ter sido a unhaca do dedo mindinho do teu pé, gajo!"
- Meias brancas! A não ser com os ténis....é impensável! É que é daquelas merdas que TODA a gente já sabe, né????
- Palitos na boca! Sei que a comida nos dentes é fodida, sei tratar-se de um hábito latino mas....foda-se.....nada, nada sexy e ainda pra mais se acompanhado com aquele barulhinho tsh tsh tsh
-Unha do Dedo Mindinho Grande que mais parece uma pá! Ela é pra tirar o cerume do tímpano, ela é pra palitar os dentes, ela é pra coçar o cagueiro....Eu reconheço a utilidade prática deste adorno, mas foda-se! Não há paciência.
- Pêlos nas costas e nos ombros! Mais parecem tapetes volantes....Se até o Mister Macacóide, Sr. Tony Ramos, os tirou..... "

Chegaram aqui? Se quiserem mais aqui vai o endereço do blog
http://gajaspodresdeboas.blogspot.com

Pensamento

"... Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida ...''

Pablo Neruda

sexta-feira, 28 de março de 2008

Indisciplina, telemóveis e autoridade

Meio país entrou em estado de choque à conta do vídeo da aluna do Porto em luta pelo telemóvel com a professora. É de facto um filme degradante, em que ninguém sai bem, nem as personagens principais, nem os actores secundários e permite várias abordagens.
Começo por falar de respeito e autoridade e de como aos professores se pede o impossível: que na escola se incutam valores que já deviam vir de casa. Os alunos mais problemáticos nas escolas são, normalmente, aqueles que não respeitam a autoridade em casa, não acatam ordens dos pais, se estes as chegam a dar, porque na maior parte das vezes isso nem acontece, os pais não dão ordens, não definem regras, ou porque não estão ou porque se demitem dos seus papéis. Quando a coisa dá para o torto, lá aparecem nas escolas, quando aparecem, a dizerem que não conseguem “fazer nada deles” e a pedirem para os professores fazerem milagres. Li hoje num jornal qualquer que, em Espanha, uns pais tinham sido multados por um tribunal devido a conduta imprópria da filha na escola. Quando os alunos são problemáticos e há colaboração familiar quase tudo se resolve.
Os telemóveis são nas escolas uma praga. No meu caso, nas turmas regulares não tem havido problemas, muito, muito raramente toca algum telemóvel. No entanto, nas turmas CEF, com alunos mais problemáticos, a coisa já é mais difícil de gerir… Uma coisa é certa, o confronto directo, como no caso da professora do Porto, é a opção menos acertada, na minha modesta opinião, claro está. Alunos deste tipo dominam muito melhor que os professores a linguagem da violência, da agressividade e o resultado será sempre o que ficou à vista. A estratégia terá que ser outra, no entanto, reconheço que, no calor do momento e em ambientes extremamente hostis, como era o caso, nem sempre há o sangue frio necessário para decidir o mais acertado.
Os professores hoje em dia não têm vida fácil. No meu tempo, quando chegava a casa com queixas de professores, a resposta era invariavelmente a mesma: o professor tem razão, era ralhete certo. Hoje caiu-se no extremo oposto: o menino chega a casa com uma queixa do professor e no outro dia o pai está na escola a fazer queixa do professor. Conheço um caso em que o telemóvel do aluno tocou três vezes na aula, era a mãe. À terceira a professora atendeu, pediu à senhora que não ligasse mais porque estavam em aulas… No dia seguinte a referida senhora estava na escola, a fazer queixa da professora: tinha sido pouco correcta ao atender o telemóvel!!!!
Como em tudo na vida é preciso bom senso de todos e que cada um assuma as suas responsabilidades: pais, alunos, professores e auxiliares de acção educativa.
Educar é uma tarefa partilhada por todos estes intervenientes e quando algum deles se demite…

quinta-feira, 27 de março de 2008

# 25: Outras felicidades

(...)
8.Vê se percebes, amor.Eu quero voar. Quero fechar os olhos, abrir os braços e voar, subir e subir e subir, atravessar nuvens e sentir a sua humidade na ponta da língua, trespassar o azul do céu com o azul dos meus olhos, e continuar, sempre, por aí acima. Quero sentar-me na lua e sentir o cheiro das estrelas. Quero ser engolida por um buraco negro, ser perseguida por uma estrela cadente. Quero espreitar o interior dos satélites, dançar nas suas asas.E depois, regressar. Conhecer os mares, nadá-los, aprender os seus fundos. Perseguir peixes, ser engolida por uma baleia e adormecer no seu estômago. Descobrir grutas subterrâneas, desenterrar tesouros fabulosos. Encontrar o equivalente masculino das sereias (tritões, não é?) e fazer amor sobre as algas, vez após vez. Ou simplesmente: respirar dentro de água.Quero deitar-me na erva fofa de uma campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando: como se o mundo esperasse por mim. Percebes isto? Sentir que o mundo espera por mim. Sentir que sou tão importante para o mundo que ele espera por mim.E depois, agradecer-lhe: devorando-o. Sei lá: subir árvores, andar de bicicleta, roubar nêsperas e atirar os caroços a quem calhar, colher flores, aprender a linguagem secreta dos gatos, fazer pão e comê-lo com manteiga, rasgar os livros de que não gosto, tocar violino no cimo de uma montanha, fazer aviões de papel e atirá-los do alto de um farol, escrever poemas eróticos e declamá-los a desconhecidos, colher caracóis nas bermas das estradas e depois libertá-los nos pomares, brincar com bonecas, abordar pessoas desconhecidas e adivinhar-lhes os nomes, caminhar pelos passeios e sorrir a quem passa.Quero percorrer o mundo, cada centímetro do mundo, e apropriar-me dele, fazê-lo meu. Quero devorar vida, engolir felicidade; e depois, devolvê-la, através dos olhos, a quem amo, a quem um dia odiei. Quero beber a beleza do mundo e dos homens, embriagar-me de beleza, ser beleza. Destilar beleza. E depois, morrer: saciada. Deitar-me novamente na erva fofa do mesmo campo verde e fechar os olhos, ouvir o sopro do vento acariciar as árvores; ser engolida pela escuridão, respirar devagarinho, saborear a paz; e sentir que o tempo vai parando, parou: para sempre.Percebes, amor?Quero tão pouco, afinal. Não achas?

Paulo Kellerman
http://agavetadopaulo.blogspot.com

terça-feira, 25 de março de 2008

Ser

Mordo as palavras uma a uma
Sabem a coisa nenhuma.
Letras gastas,
Versos sem rima,
Inodoros e sem cor.
Ah…Ter nas palavras a força
Que têm os mestres,
Fazer da poesia manifesto
Ou fazer com a poesia amor…
Seria conquistar o mundo sem dar um passo,
Ter dos pássaros as asas e a liberdade,
Dos homens todas as vozes
E da eternidade provar o sabor.

Encandescente, in "Palavras Mutantes", pág.42, Edições Polvo

segunda-feira, 24 de março de 2008

Poesia

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector

Balanço

Depois da big party e das respectivas arrumações, tem sido muitas sopas e descanso. Entreguei-me à leitura dos livros que me ofereceram, entremeada com umas sonecas e contemplações do céu a partir da minha janela.
Ontem de manhã, o céu estava especialmente azul e, deitada na minha cama,(tenho o privilégio de ter um janelão enorme de onde só se vê o céu), havia uma pequena nuvem branca, tipo pincelada ao acaso, pequena, redonda, que foi desaparecendo, no seu trajecto. Depois vieram outras, pequenas, brancas, airosas, que passaram também e dei por mim a pensar nos meus amigos, na minha família, na festa, nos quarenta, nas pessoas que passaram na minha vida sem deixar grande impressão, como aquelas nuvens brancas e leves, e noutras que passaram e deixaram um rasto, tipo aquelas nuvens associadas a grandes tempestades das quais, anos depois, ainda se guardam reminiscências dos danos que provocaram. Finalmente pensei nas pessoas que têm permanecido, nas que têm chegado de novo... Pensei nos meus alunos, especialmente nos mais problemáticos, naqueles que me dão mais luta, naqueles que são mais dificeis e em como é bom ganhar o afecto deles. Ontem de manhã, um deles, talvez o mais problemático de todos, ligava-me com um ar choroso, a dar-me os parabéns, a dizer que se tinha esquecido e se me podia mandar uma mensagem de Páscoa... Era domingo de Páscoa e sei que para ele seria só mais um dia, em que provavelmente racharia lenha, seria ridicularizado pelo pai, trabalharia duro, não haveria amêndoas, coelhos de Páscoa ou mimos. Portanto festejei o seu telefonema como se tivesse chegado no momento exacto do aniversário.
Tenho esta mania de abrir a porta a toda a gente, de partir à descoberta de cada pessoa, só com expectativas positivas e de as deixar revelar-se na sua plenitude, não serão perfeitas porque eu também não sou, às vezes não corre bem, porque de facto há algumas que nos trazem muito pouco de bom. Em compensação há outras... que tudo compensam.
Pensei nas pessoas que estiveram em minha casa, nos seus percursos de vida, nos seus problemas, no muito que me têm enriquecido, no porquê de estarem ali. Os meus pais, com quem sempre contei, a quem tudo devo. Os meus filhos, companheiros insubstituíveis. E todos os outros, especiais para mim, de alguma forma.
Pensei nas que não estiveram, embora eu o tivesse desejado, mas que não estando em corpo, o estiveram em espírito, acompanhando-me. Como em cada dia.
E depois, regressei ao livro, e depois veio uma sonolência e fiz uma soneca.
"Tá-se" bem.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Vimos chegar as andorinhas

Vimos chegar as andorinhas
conjugarem-se as estrelas
impacientarem-se os ventos

Agora
esperemos o verão do teu nascimento
tranquilos, preguiçosos

Tão inseparáveis as nossas fomes
Tão emaranhadas as nossas veias
Tão indestrutíveis os nossos sonhos

Espera-te um nome
breve como um beijo
e o reino ilimitado
dos meus braços

Virás
como a luz maior
no solstício de junho.


Rosa Lobato de Faria

terça-feira, 18 de março de 2008

Cativa-me

(...) E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um menino inteiramente igual a cem mil outros meninos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

Antoine de Saint Exupery

Porta aberta

Quem tiver coragem que me refreie,
Que me ponha um freio,
Uma mordaça,
E cale a voz que tenho em mim.
Tenho tempestades para dar
A quem se atrever a entrar,
Nas portas que abro aqui.
Quem quiser calmaria
É melhor nem espreitar,
Que não sou
Santuário ou oásis,
E a paz,
Não a encontram em mim.
Mas quem quiser ser vento,
Atravessar tempestades,
Subverter todas as possibilidades
Mergulhar sem saber profundidades...
A porta está aberta,
Pode entrar!

Encandescente, in"Bestiário",pág.68, Edições Polvo

segunda-feira, 17 de março de 2008

40

Esta semana é especial... Lá para o fim da semana faço 40 anos. Quando era adolescente e pensava em pessoas com mais de 30 anos achava que eram velhas! Não me sinto velha, pelo contrário, sinto-me melhor que nunca, não gostaria que o tempo voltasse para trás, mas poderia parar aqui.
Trago em mim tudo o que me aconteceu... O que me fez rir, o que me fez chorar, o que me fez pensar, as asneiras que fiz, os meus sucessos, os meus fracassos e toda eu sou estas coisas todas arrumadas cá dentro e que me impulsionam a viver mais e melhor.
Não mudaria nada do que aconteceu, tudo contribuiu para aquilo que sou hoje, mesmo o que me fez mais mal e me magoou mais, foi com o que mais cresci.
Aliás, tenho da vida uma concepção um pouco fatalista, acho que nada nos acontece por acaso, portanto...
Gosto de viver, de rir, das pessoas que estão ou passaram pela minha vida. Gosto de sair de casa em cada dia e ter o privilégio de fazer o que gosto, de sentir cada cheiro, cada palavra, cada olhar. Por isso farei uma festa, porque cá dentro há festa!
Depois... Gosto do dia que escolhi para nascer, acho que é especial...
Dia da árvore... Uma árvore não é um ser vivo qualquer, está em íntima comunhão com a terra, comunga da sua seiva,expande a sua sombra sobre viajantes exaustos, namorados de mãos dadas, velhos que jogam cartas, baloiços que oscilam por entre gargalhadas...
Dia da poesia, o que eu gosto de poesia! Oque eu gosto de palavras intensas, combinadas daquela forma que me toca , de momentos que por vezes, sem nenhuma palavra, são poesia pura.
Dia da Primavera, colo aqui o que já escrevi...Gosto deste cheiro a Primavera, deste sentir que a natureza se renova, destas temperaturas mais tépidas, do aligeirar das roupas, do cheiro do polén no ar. Há uma promessa de regeneração...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Normas

O nosso mundo é cheio de regras e convenções e conduzir-nos por entre tantos sinais de trânsito e proibições, evitando choques frontais, despistes e outros percalços é obra! As normas vêm dos mais variados lados e regulamentam as mais variadas coisas e nós cá vamos vivendo, numa gincana constante cuja meta será estarmos bem, em suma, sermos felizes, seja lá o que isso for para cada um de nós.
Pagamos impostos, pagamos casa, tiramos férias quando nos deixam, entramos e saímos dos empregos quando nos mandam. Não damos escândalo (supostamente) e isto pressupõe que temos os comportamentos considerados adequados à nossa faixa etária e classe social: não andamos nus na rua, não exteriorizamos demasiado os nossos sentimentos em público… Resumindo: somos mais ou menos alinhados. Alinhados com quê? Connosco ou com os outros?
Além destas regras existem muitas outras… Temos os pecados mortais que aprendemos na catequese e definidos pelo Papa Gregório I no séc. VI, ainda se lembram? Gula, avareza, preguiça, raiva, luxúria inveja e orgulho. Bem… Daqui ninguém se safa, todos pecamos, menciono só os mais ao alcance de todos: o prazer de ter um dever para cumprir e não o fazer, como dizia o poeta; o prazer de saborear as nossas iguarias, de fazer às vezes quilómetros para degustar aquilo que as nossas papilas, gulosas, nos exigem! Já para não falar dos dez mandamentos… Aliás o Papa, esta semana, resolveu actualizar a lista de pecados mortais juntando-lhe mais seis: pedofilia, aborto, poluição do ambiente, pobreza extrema de uns e riqueza escandalosa de outros, tráfico de droga e realização de experiências de manipulação genética.
No meio desta confusão, parece-me que o caminho é simples e que encontrado esse, tudo o resto virá naturalmente: se gostarmos de nós, saberemos desfrutar e gostar dos outros e do que nos rodeia, saberemos o que nos magoa e o que nos faz felizes e teremos prazer em fazer os outros felizes, teremos prazer em viver harmoniosamente com o ambiente que nos rodeia.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Da amizade

"Era bom saber – continua, como se discutisse consigo próprio –, se existe amizade realmente? Não me refiro àquele prazer ocasional que faz com que duas pessoas fiquem contentes porque se encontraram, porque num determinado período das suas vidas pensavam da mesma maneira sobre certas questões, porque os seus gostos são semelhantes e os seus passatempos iguais. Nada disso é amizade . Às vezes chego a pensar que essa é a relação mais forte na vida... talvez por isso seja tão rara. E o que há no seu fundo? Simpatia? É uma palavra imprópria, sem sentido, o seu conteúdo não pode ser suficientemente forte para que duas pessoas intervenham em defesa um do outro nas situações mais críticas da vida... apenas por simpatia? Talvez seja outra coisa?... Talvez exista uma pitada de Eros no fundo de todas as relações humanas? [...] Naturalmente, a amizade não tem nada a ver com a inclinação doentia de algumas pessoas que procuram uma satisfação disforme com pessoas do mesmo sexo. O Eros da amizade não precisa do corpo... longe disso, incomoda mais do que o excita. Porém não deixa de ser Eros. Eros está no fundo de todos os afectos, de todas as relações humanas. [...]
As simpatias que vi nascer entre pessoas diante dos meus olhos, acabaram sempre por se afogar nos pântanos do egoísmo e da vaidade. A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas que essa intimidade é uma espécie de amizade."

Sandor Marai, as velas ardem até ao fim
( Aquele livro onde volto sempre)

Sedução

Dentro de mim mora o animal
indômito e selvagem
que talvez te faça mal

talvez uma faísca
relâmpago no olhar
depressa como um susto
me desmascare o rosto
e de repente deixe exposto
o meu pior

em mim germina
uma força perigosa
que contamina
uma paixão vulgar
que corta o ar e que
nenhum poder domina

explode em mim
uma liberdade que te fascina
sopro de vida
brilho que se descortina
luz que cintila, lantejoula
purpurina
fugaz como um desejo
talvez te mate
talvez te salve
o veneno do meu beijo.

Bruna Lombardi
(uma excelente poetisa, actriz e ... uma mulher lindíssima)

terça-feira, 11 de março de 2008

Fim de tarde

Cheguei, sentei-me aqui, olhei para a serra, meia escondida pelas nuvens baixas, pesadas, uma chuva miudinha . O dia que parte, a noite que espreita... Há dias em que me apetece mandar a rotina e as obrigações às malvas... Mas depois penso em todas aquelas coisas que enriqueceram o meu dia, nas palavras, nos silêncios, nos olhares, nos sorrisos...
E o meu castelo, com os seus coruchéus verdes, companheiro, cúmplice, sobressai no nevoeiro, como que dizendo, há sempre algo que se levanta mais alto, mesmo no meio do maior nevoeiro...
Pronto, a noite já envolveu tudo, com a sua promessa de mistério.
"Horas benditas, leves como penas, horas de fumo e cinza, horas serenas" (Florbela Espanca)

domingo, 9 de março de 2008

Manif

Domingo à noite... Nova semana se inicia. Confesso que tenho tido umas semanas assim a dar para o estafante e ando com as pilhas um pouco em baixo...
Ontem fui à manifestação e fiquei surpresa com a mobilização! Tanto professor! Também fiquei surpresa hoje com o discurso do Primeiro hoje... Continua a insistir na teoria de que os professores se querem manter como há vinte anos atrás! É mentira! todos queremos ser avaliados, isto de toda a gente ter suficiente, trabalhe muito ou pouco, não é justo para ninguém! Continua a culpar os professores de todos os males, esquecendo-se que nós andamos no terreno há anos a implementar reformas de acordo com as cabeças que vão passando pelo ministério, sem que sejam avaliadas e que os resultados são fruto das ideias de quem manda...
Enfim, aguardemos...
Não digas ao que vens. Deixa-me
adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. É longe atua casa?
Dou-te a minha: leio nos

teus olhos o cansaço do dia que te
venceu; e, no teu rosto, as sombras
contam-me o resto da viagem. Anda,
vem repousar os martírios da estrada

nas curvas do meu corpo - é um
destino sem dor e sem memória. Tens
sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja - morde-a na minha
boca sem pedires.

Não, não me digas
quem és nem ao que vens. Decido eu.

Maria do Rosário Pedreira(a minha poetisa favorita)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Dia da Mulher

Este é um comentário que alguém deixou ao meu texto anterior.. Mas é tão bonito que merece ficar na página principal...

"Cuida-te de fazer chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A Mulher saiu da costela do Homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas do seu lado para ser igual.Debaixo do coração para ser protegida e ao lado do coração, para ser Amada."



Do Talmud Hebreu

Ser mulher

Ser mulher…

Amanhã é dia da mulher, embora não seja muito de comemorar as coisas nas datas marcadas e achar que sou mulher todos os dias e que também devia haver um dia do homem, hoje apetece-me seguir o mote.
Ser mulher é ter o privilégio imenso de gerar vida cá dentro, de a trazer em nós. Depois, cortado o cordão, sentir o laço que não mais se desfaz…
Ser mulher é sentir de outra forma, é olhar diferente, é resolver diferente, é ser forte.
Ser forte, não significa gritar para ser ouvida e para chamar. Não é "medir forças", "enfrentar", pois a nossa força está na persuasão. Ser forte é saber recuar, fortalecer-se, para então avançar com mais força, mais segurança, mais convicção e atingir o objectivo e assim vencer.
Vencer o quê? Vencer a batalha diária pela felicidade, pelo direito a beber em cada dia o melhor que ele tem, para que no meio da correria do trabalho, das roupas, da comida, possamos sentir o sol na pele, sentir aquele olhar especial que nos dirigem, ler a poesia de que gostamos.
À mulher é pedido muito, dela muito se espera…
Termino com uma citação…
“Superiores pelo amor, mais dispostas a subordinar a inteligência e a actividade ao sentimento, as mulheres constituem espontaneamente seres intermediários entre a Humanidade e os homens”
Auguste Comte

quinta-feira, 6 de março de 2008

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia
e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez,
te reconheças.

Miguel Torga, Diário XIII