sábado, 28 de fevereiro de 2009

Palavras



Escolho as palavras uma a uma. Escrevo, leio, releio, apago, substituo, reescrevo. Peso-as, meço-as, ensaio a sua aerodinâmica, calculo a sua força no momento de impacto e os danos colaterais. Escondo-as, porque o tempo é de silêncio, um silêncio com tanta coisa por dizer.

Eu vou treinando palavras, numa espécie de exercício libertador porque enquanto escrevo o que não digo, ponho a alma ao sol primaveril. Faço uma espécie de diário, o diário das palavras que diria.
Parece-me que uma adjectivação mais inaudita, uma pronúncia mais brusca, ou uma frase mais rebuscada podem ter um efeito de um tsunami e derrubar estruturas frágeis e evocar tragédias antigas, portanto escrevo e calo até ao momento em que um daqueles impulsos me assole e eu as envie, de olhos fechados, com medo do impacto.
São assim as palavras… Pontes ou bombas, luz ou treva, ternura que me sai dos dedos ou chicote com que vergasto.
Escolho as palavras uma a uma…

2 comentários:

prafrente disse...

"...são assim as palavras...".

Mas não vale a pena ficar calado...com medo de errar.Existe em nós a linguagem "silenciosa", tão expressiva como a falada e que, como ela, pode ser ternura que acolhe ou chicote que vergasta.
Ás vezes as palavras mentem...mas os olho não...

Bom fim de semana

Maresia disse...

Prafrente
Concordo consigo... É nos actos e nos gestos que nos afirmamos completamente!
Bom fim de semana!