quinta-feira, 13 de março de 2008

Normas

O nosso mundo é cheio de regras e convenções e conduzir-nos por entre tantos sinais de trânsito e proibições, evitando choques frontais, despistes e outros percalços é obra! As normas vêm dos mais variados lados e regulamentam as mais variadas coisas e nós cá vamos vivendo, numa gincana constante cuja meta será estarmos bem, em suma, sermos felizes, seja lá o que isso for para cada um de nós.
Pagamos impostos, pagamos casa, tiramos férias quando nos deixam, entramos e saímos dos empregos quando nos mandam. Não damos escândalo (supostamente) e isto pressupõe que temos os comportamentos considerados adequados à nossa faixa etária e classe social: não andamos nus na rua, não exteriorizamos demasiado os nossos sentimentos em público… Resumindo: somos mais ou menos alinhados. Alinhados com quê? Connosco ou com os outros?
Além destas regras existem muitas outras… Temos os pecados mortais que aprendemos na catequese e definidos pelo Papa Gregório I no séc. VI, ainda se lembram? Gula, avareza, preguiça, raiva, luxúria inveja e orgulho. Bem… Daqui ninguém se safa, todos pecamos, menciono só os mais ao alcance de todos: o prazer de ter um dever para cumprir e não o fazer, como dizia o poeta; o prazer de saborear as nossas iguarias, de fazer às vezes quilómetros para degustar aquilo que as nossas papilas, gulosas, nos exigem! Já para não falar dos dez mandamentos… Aliás o Papa, esta semana, resolveu actualizar a lista de pecados mortais juntando-lhe mais seis: pedofilia, aborto, poluição do ambiente, pobreza extrema de uns e riqueza escandalosa de outros, tráfico de droga e realização de experiências de manipulação genética.
No meio desta confusão, parece-me que o caminho é simples e que encontrado esse, tudo o resto virá naturalmente: se gostarmos de nós, saberemos desfrutar e gostar dos outros e do que nos rodeia, saberemos o que nos magoa e o que nos faz felizes e teremos prazer em fazer os outros felizes, teremos prazer em viver harmoniosamente com o ambiente que nos rodeia.

3 comentários:

Narrador disse...

Uma reflexão cheia de sensibilidade e sabedoria.

Excelente.

Anónimo disse...

E a felicidade existe?
Acredito que ela não é um estado de euforia permanente, mas resulta da nossa capacidade em ultrapassar as contingências da vida, sem nunca perdermos a coragem para amar, nem a força para lutar!
Escreveu Agostinho de Hipona:
" Ama e faz o que quiseres"!!
Omnia vincit amor, acrescento eu...

É sempre preciso não confundir regras com preconceitos institucionalizados, no inconsciente colectivo.Não concebo um mundo sem um mínimo de regras.Agora os preconceitos apenas conduzem á estupidificação do homo sapiens.

Sobre Gregório I e Bento XVI muito haveria a dizer, mas não caberia tudo neste comentário.Entre a tese e a antítese cabe a cada um de nós fazer a síntese.

Como sempre o seu artigo está excelente.Gosto da sua literacia emocional.

:-* José

Dulce disse...

Irene,
ao contrário do noticiado pelos meios de comunicação o Papa não decretou uma nova lista de pecados capitais. O erro advém da inércia dos jornalistas, que ao invés de procurarem as verdadeiras fontes, limitam-se a copy/paste.
Os 'novos pecados' anunciados foram os apontados por um Bispo numa mera entrevista.

Pode confirmar aqui: http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=57620&seccaoid=6&tipoid=32

PS - do seu texto deduzo que partilhamos os mesmos pecados: o da gula! ;) e de vez em quando o da preguiça (a par de F. Pessoa) ;)