Meio país entrou em estado de choque à conta do vídeo da aluna do Porto em luta pelo telemóvel com a professora. É de facto um filme degradante, em que ninguém sai bem, nem as personagens principais, nem os actores secundários e permite várias abordagens.
Começo por falar de respeito e autoridade e de como aos professores se pede o impossível: que na escola se incutam valores que já deviam vir de casa. Os alunos mais problemáticos nas escolas são, normalmente, aqueles que não respeitam a autoridade em casa, não acatam ordens dos pais, se estes as chegam a dar, porque na maior parte das vezes isso nem acontece, os pais não dão ordens, não definem regras, ou porque não estão ou porque se demitem dos seus papéis. Quando a coisa dá para o torto, lá aparecem nas escolas, quando aparecem, a dizerem que não conseguem “fazer nada deles” e a pedirem para os professores fazerem milagres. Li hoje num jornal qualquer que, em Espanha, uns pais tinham sido multados por um tribunal devido a conduta imprópria da filha na escola. Quando os alunos são problemáticos e há colaboração familiar quase tudo se resolve.
Os telemóveis são nas escolas uma praga. No meu caso, nas turmas regulares não tem havido problemas, muito, muito raramente toca algum telemóvel. No entanto, nas turmas CEF, com alunos mais problemáticos, a coisa já é mais difícil de gerir… Uma coisa é certa, o confronto directo, como no caso da professora do Porto, é a opção menos acertada, na minha modesta opinião, claro está. Alunos deste tipo dominam muito melhor que os professores a linguagem da violência, da agressividade e o resultado será sempre o que ficou à vista. A estratégia terá que ser outra, no entanto, reconheço que, no calor do momento e em ambientes extremamente hostis, como era o caso, nem sempre há o sangue frio necessário para decidir o mais acertado.
Os professores hoje em dia não têm vida fácil. No meu tempo, quando chegava a casa com queixas de professores, a resposta era invariavelmente a mesma: o professor tem razão, era ralhete certo. Hoje caiu-se no extremo oposto: o menino chega a casa com uma queixa do professor e no outro dia o pai está na escola a fazer queixa do professor. Conheço um caso em que o telemóvel do aluno tocou três vezes na aula, era a mãe. À terceira a professora atendeu, pediu à senhora que não ligasse mais porque estavam em aulas… No dia seguinte a referida senhora estava na escola, a fazer queixa da professora: tinha sido pouco correcta ao atender o telemóvel!!!!
Como em tudo na vida é preciso bom senso de todos e que cada um assuma as suas responsabilidades: pais, alunos, professores e auxiliares de acção educativa.
Educar é uma tarefa partilhada por todos estes intervenientes e quando algum deles se demite…
3 comentários:
Um texto escrito com mestria. Ponderado e equilibrado. Um mote único para a reflexão.
Agradeço a partilha.
Diz o povo "quem nasce torto,tarde ou nunca se endireita".
Apesar de toda a polémica suscitada por este acontecimento, ele teve um efeito positivo;pôs-nos a todos,docentes,discentes,pais,politicos,a reflectir sobre uma realidade que teimávamos em ignorar.
Tenho dificuldade em compreender o que leva um adolescente a utilizar o telemovel durante uma aula; mas tendo em conta a sua revolução hormonal, nesta fase da sua existência,consigo encontrar algumas atenuantes.
Aquilo que eu,realmente,não consigo aceitar é que,em aulas frequentadas por alunos que já foram filhos e agora são pais,os telemoveis continuem a tocar.
Somos um povo cada vez mais culto e cada vez menos educado.
Não desanimemos!Ainda conseguimos mostrar ao mundo como se joga futebol...
Olhe concordo muito com o seu artigo.È preciso bom senso e euma professora que entra em luta livre com uma aluna, não estará por certo nas suas melhores condições psicológicas. Não deveriam ser permitidos telemóveis nas salas de aulas mas sejamos justos nem para alunos nem para professores e todos sabemos que as mensagens continuam a circular vindas de telemóveis de alunos mas também de professores em pleno tempo de aulas.
Ora meus senhores aqui com alunos desta faixa etária e também com professores , os telemóveis são uma tentação e todos pisam o risco
Ninguém precisa de se mascarar de anjo.
Telemóveis é mais um problema, entre outros que resulta desta verdadeira revolução que são as novas tecnologias.
Se todos assumirmos sem falsos pudores e com bom senso as nossas falhas , os nossos pequenos delitos, estas cenas não se viam numa sala de aula.
Maria Antonieta Mariano
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