Andei indecisa quanto ao tema da crónica… Esteve sempre debaixo do meu nariz, na ponta dos meus dedos, nas palavras que todos os dias digo, escrevo e leio.
Pelas palavras vos chego, pelas palavras me exponho em cada semana. E pelas palavras me descobrem, pela maneira como as escolho, como as associo, como as faço transmitir aquilo que sinto e sou.
Dias há em que palavra nenhuma parece ser boa para nos traduzir, para nos conduzir onde queremos e precisamos do nosso silêncio para nos apaziguar, para nos organizar cá dentro as sílabas e não as deixar sair até que estejam maduras.
E o segredo do nosso sucesso reside na maneira como usamos as palavras, como as entrelaçamos, como as fazemos chegar aos outros. Podem ser porto de abrigo as nossas palavras e acolhe-los nas suas tempestades e serem agasalho, serem luz. Também podem ser punhais, como dizia o poeta, deixamo-las sair, como setas, por vezes atiramo-las, e elas batem em alguém, machucam, deixam marcas.
Geri-las de forma inteligente é o sonho de todos, uns porque falam demais, outros de menos, outros porque as palavras se lhes entaramelam na boca e parecem nunca corresponder àquilo que sentem e o abismo entre o dizer e o sentir é intransponível.
E depois há aquelas pessoas que comunicam sem palavras, que basta um olhar para tudo se saber, tudo se sentir.
Já disse coisas de que me arrependi, já me arrependi de não ter dito outras, como todos nós. Há dias em que falo como uma “matraca”, há dias em que necessito dos meus silêncios, para me desintoxicar, para organizar cá dentro a profusão de palavras com que diariamente somos bombardeados.
Palavra e silêncio…
6 comentários:
Céus...Como eu me identifico.
Ufa...Agora com mais tempo, se me permite.
Eu identifico-me com as suas palavras, porque tenho presentes e bem vivas, memórias de palavras que proferi, de palavras que não proferi, de palavras que trouxeram até mim situações menos convenientes. também houve as que, desbravaram caminho para situações dignas de pura felicidade. Mas lá está, nem sempre as usamos da melhor maneira, era bom existir um fórmula eficaz para essa questão. Seria tudo, de facto, mais fácil.
Mas o narrador tem o dom da palavra... Escreve fabulosamente bem...Disse-me que um dia há-de ser escritor e eu acho que vai mesmo. Tomei a liberdade de pôr um texto seu no meu blog, porque me tocou de forma especial, porque uma despedida será sempre sangue.
"podem ser porto de abrigo...serem luz.Também podem ser punhais..."
Nunca me cansarei de dizer que ,quando você escreve,é o coração que fala.Mais que a SIMPATIA é a EMPATIA, a qualidade que mais aprecio nos seus artigos.
Mesmo que você seja uma deusa grega a sua maior beleza será sempre a beleza do seu coração.
Práfrente é o caminho...
Como posso deixar passar em claro as Suas palavras? Não posso. É inevitável. Tenho o dom da palavra? Talvez tenha, não sei, e juro sem jurar, que não estou ventilar uma falsa modéstia...
O meu problema está mesmo na gramática...
Agradeço do fundo deste coração que pulsa, de espanto.
Ah...
Sem dúvida que uma despedia será sempre sangue. Mas então, o melhor é não levar o sangue a fervilhar...Porque se fervilha, a despedida é apenas o seu desaguar...
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