Manhã cedo. Neblina fresca. Noite mal dormida. Estou de partida. Para o pé do mar, algures para norte, lá onde a água é mais fria e o vento mais forte. As palavras voltarão revigoradas, alimentadas de algas, maresia e sol. Mais claras, mais luminosas, mais salgadas.
2 comentários:
E leva este poema meu, alma amiga:
MENSAGEM
Volta a ser criança!
Deixa esse teu ar
de gente crescida,
de gente educada,
de gente importante,
de gente endinheirada,
e volta a ser criança!
Despe as máscaras todas
que aprendeste na vida,
do sorriso estudado,
aprendido,
medido,
calculado,
e volta a ser criança!
Deixa as tuas filosofias,
o teu ar intelectual,
a tua vasta experiência de viver
e faz acordar
os sonhos todos que tiveste,
as ilusões todas que acalentaste.
Esquece o pavor da fome e da guerra
e todo o medo de morrer,
volta ao paraíso perdido,
onde tudo é original e primitivo,
onde o leão brinca com a corça
e as andorinhas fazem ninho
nos beirais dos dentes do elefante.
Deixa a vida correr
com toda a pressa que tem.
Nunca uma criança nasceu,
de relógio na mão,
a contar os minutos
para chegar,
partir,
entrar,
correr,
voltar,
e volta a ser criança!
Esquece o teu ar sofisticado,
esquece as tuas maquilhagens,
os teus vernizes,
os teus penteados.
Nunca uma criança nasceu engravatada.
Volta a fazer caretas
a quem passa na rua.
Volta a andar nua na praia,
a rolar o corpo na areia,
a sujar as mãos na terra,
a beijar quem amas,
sem qualquer medo
do que vão pensar dos teus beijos.
Ao menos uma vez na vida,
faz acordar a criança que és, adormecida.
E volta a ser criança!
Boas férias.
Para norte, a direcção da peregrinação. Onde a língua é um alicate de corte e, ainda assim, é acolhedora a gente.
Para norte, onde o verão sem dias frios ou chuvosos não é questão de sorte. É mesmo uma certeza; pelo menos na minha infância.
Volta com mais palavras, não só salgadas (olha o coração!), mas também doces, amargas, picantes e, quando assim tiver de ser, ácidas.
Bom regresso.
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