sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Porque não te calas?

Eu gostei da atitude do Rei de Espanha, confesso. Podem dizer que não foi muito apropriada, que foi impulsiva, que se calhar até vai prejudicar não sei o quê... Quantas vezes não nos apeteceu já, em muitas situações, fazer o mesmo? Mandar às urtigas a boa educação, o decoro, o respeito por tantas coisas e dizer exactamente o que grita cá dentro e fazer exactamente o que nos apetece!
São as convenções e as regras que tornam o nosso mundo civilizado, ordeiro e expectável. Conduzimos pela direita, paramos nos semáforos, comemos com a boca fechada, não discutimos em público... E se alguém discute ou fala alto , olhamos pelo canto do olho e pensamos: Que horror, que falta de nível!
Quem não segue as convenções é apontado, cochichado e ... Temos uma facilidade enorme em nos armarmos em juízes, em julgar os outros, em apontar o dedo até ao dia em que... Qualquer coisa nos abana e pisamos o risco, abrimos o colete de forças, permitimo-nos ser nós, primordiais, básicos, autênticos. O tremor de terra pode ter várias origens: uma doença, um acidente, um desgosto, um amor... mas uma coisa é certa, a paisagem cá dentro nunca mais é a mesma! Reorganizamos os nossos pontos cardeais, redefinimos o norte e arrumamos as convenções no local próprio... Na prateleira das coisas que respeitamos, mas que não nos tiranizam.
Todos nós às vezes necessitamos e devemos dizer os nossos "Porque não te calas?", porque não somos de ferro e também temos os nossos dias não, porque há situações em que não nos devemos mesmo calar, mesmo que isso seja incómodo, porque nos faz bem.
Mas também devemos saber que há momentos em que o silêncio é a atitude mais sábia, aquela que mais nos protege e aos outros. O difícil mesmo é saber gerir os silêncios e as palavras, de modo a que nem uns nem outras nos sufoquem.
Quem disse que viver é fácil?

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá,
parabéns pelo sentimento e pela escrita em que o reproduzes.
Apetece-me dizer-te: "Não te cales".
Continua a dar forma aos teus sentimentos.

Beijos

João de Sousa disse...

Um pouco de política: A expressão foi proferida por um rei estrangeiro, pelo que parece algo estranho que os republicanos portugueses tomem partido sobre a questão apenas pelo lado das boas maneiras. Importa não esquecer os democratas de Weimar que por pruridos idênticos abriram a porta a Hitler. É bom ler o teu comentário sobre o caso: às malvas com os engulhos e viva a liberdade de expressão.