sábado, 28 de fevereiro de 2009

Revolutionary Road


Hoje fui ao cinema ver o filme que deu o Óscar de melhor actriz à Kate Winslet. Um filme fantástico baseado numa história do mais comum que há. Saí de lá e chorei (não vale a pena rirem-se porque eu admito que sou uma lamechas e choro com estas coisas)!
O título do filme corresponde ao nome da rua onde vive o casal constituído pela Kate e o Leonardo di Caprio e não é por acaso. Lembrava-me sempre deles no Titanic, ela a boiar naquele pedaço de madeira e ele a morrer congelado naquelas águas tenebrosas e gélidas, mas este filme apaga completamente essa imagem.
Um homem e uma mulher excepcionais em que cada um admira no outro o seu brilhantismo interior e que, mercê das circunstâncias da vida (filhos, casamento, casa), abdicam, quase sem dar por isso, do que de melhor têm. Até que um dia, ela se dá conta do quanto é “desesperadamente vazia “ a sua vida e decide retomar a capacidade de acreditar e de mudar da juventude.
Mexeu muito comigo enquanto mulher e enquanto ser humano este filme. Quando perdemos a capacidade de nos rebelarmos à rotina que nos engole, quando cedemos ao comodismo das soluções mais fáceis, morremos por dentro. E nalguns casos por fora também.
Aconselho vivamente, verão uma Kate Winslet magistral. (Não referi pormenores da história para não tirar o interesse).
É um filme muito duro. Os diálogos são muito intensos e dramáticos. Há uma cena ou duas (as do aborto) em que senti até algo de físico, as entranhas revoltas.

Palavras



Escolho as palavras uma a uma. Escrevo, leio, releio, apago, substituo, reescrevo. Peso-as, meço-as, ensaio a sua aerodinâmica, calculo a sua força no momento de impacto e os danos colaterais. Escondo-as, porque o tempo é de silêncio, um silêncio com tanta coisa por dizer.

Eu vou treinando palavras, numa espécie de exercício libertador porque enquanto escrevo o que não digo, ponho a alma ao sol primaveril. Faço uma espécie de diário, o diário das palavras que diria.
Parece-me que uma adjectivação mais inaudita, uma pronúncia mais brusca, ou uma frase mais rebuscada podem ter um efeito de um tsunami e derrubar estruturas frágeis e evocar tragédias antigas, portanto escrevo e calo até ao momento em que um daqueles impulsos me assole e eu as envie, de olhos fechados, com medo do impacto.
São assim as palavras… Pontes ou bombas, luz ou treva, ternura que me sai dos dedos ou chicote com que vergasto.
Escolho as palavras uma a uma…

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Rosa-Albardeira (Pæonia broteroi)

Vêem esta flor? É especial. Talvez sejam todas, mas esta é muito. É conhecida por aqui como rosa-albardeira. É uma espécie rara, protegida e é selvagem. Nasce no meio das pedras por esses terrenos incultos, aparece na Primavera e o seu aroma é único.
Nós, tal como esta rosa, também somos únicos na nossa beleza e aroma.
Apreciem-na bem e se quiserem sentir o seu aroma, digam. Terei todo gosto em ser vossa guia por estas serras, à descoberta de rosas-albardeiras.


P.S. Agradeço a quem me mandou esta flor, conhece bem os meus gostos. É sempre bom receber flores.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Encontro


E agora estamos aqui. Frente a frente. Íntimos e estranhos. Conhecidos os interiores, virgens os olhos que se apresentam, procurando correspondências, no ouvido tantas palavras, tantos sussurros, tanta ânsia.Aclaro a garganta, enceto uma conversa de salão para entreter o nervoso que me ronca cá dentro... Como, digo que está bom, sem saber a que sabe, aqui come-se sempre bem, hoje não seria diferente só porque estás aqui.
De repente sinto-me pequena, esmagada pelas linhas de histórias que leio na tua face, os olhos cansados, quase gasta a chama primordial que os alimenta. E falo, falo para me esquecer do mar lá fora e do frio que deixei de sentir, quando aconchegada no teu calor. E do quanto me apeteceu dizer, despe a roupa de homem grande, vamos brincar à apanhada, encher os pés de areia, rir e contar as estrelas, até o frio dentro e fora passar.
É hora. Vamos. Cantamos, espantamos os nervos. Na voz o menino que me desembarca nas palavras e que sinto aprisionado nas velhas histórias.
Íntimos e estranhos. Não sei. Lá fora a escuridão e o tempo que nunca se detém.

Espera

Gosto deste silêncio
Gosto deste sol que me banha
Gosto deste tempo que é meu

Aqui espero não sei o quê
Nem quando

Não é importante

Importante é esperar

prenhe de crer...

e quando a vida passar
ter as duas mãos prontas
para a agarrar!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Silêncio

Cala os teus silêncios

Aturdem-me

Almas enredadas
Em novelos de nadas

Basta-me a brisa
E sou pássaro
E água
E riso

De nada mais preciso.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Dança


O dia quase a despontar ali na rua. Lá dentro, uma multidão comprimida que se agita, que se encontra, corpos e olhares que se tocam na voragem da música, do copo na mão, da libertação redentora de angústias e dias crispados.O constrangimento atrás da máscara, olhos que se tacteiam na penumbra, passos que se juntam, corpos que se unem. Dançam, fundidos, presos nos olhos.

Linguagem ancestral, sem dicionário, tradução ou estilística. Mímica de vida.
(Acompanhar com música... Cat Power, lá em cima... )

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Labirinto


Tremor
De frio
De ti
Deste desatino
Que não domino
Caminho-te
Às cegas
Tacteio-te
É noite.

Perco-me.

Devolve-me...



Devolve-me a minha vida, que não sei o que fazer sem ela. Devolve-me a clarividência do riso das crianças, a doçura dos domingos embalados na modorra familiar, as receitas experimentais no caos da minha cozinha minúscula e o gozo de afagar os cães com as suas línguas caídas e alegres. Devolve-me a futilidade das tardes roubadas ao trabalho e passadas entre amigas, o entrar e sair dos provadores, um número abaixo, um número acima, esta saia fica-me mal, essas calças ficam-te bem, o cobiçar das botas na montra e o aconchego da noite, que sempre tratei por tu e que agora é uma estrada escura que atravesso a pé e a medo até ao limiar do dia. Devolve-me as músicas que me faziam feliz, a voz redonda e cheia com que as cantava pela janela do carro, o prazer das manhãs debaixo de um céu sem nuvens, a vontade de ler um livro, um livro a sério. Devolve-me a capacidade de atentar nos detalhes, no traço incerto de uns dedos pequenos e gorduchos numa folha branca, na pontaria instintiva de uma piada privada atirada ao ar; devolve-me a sede de saber do mundo no escrutínio de um jornal diário, devolve-me o sócrates e o obama, as respostas que te não dei, mais a luta que te não ofereci e os argumentos a que me escusei quando me lancei à tua boca e as palavras foram só empecilhos. Devolve-me as noites pacificadas no enrosco de um abraço, a ignorância que tinha de ti, a incisão na pele de um raio de sol de inverno e o gozo de ver um bom filme. Devolve-me o prazer do silêncio e do telemóvel desligado. Devolve-me, que as pessoas já falam e comentam e reparam no invólucro de mim que sobrevive rasteiro, e toma (leva contigo), esta abrasão no peito, a dispersão e o medo, a indiferença e o tédio, o insosso das refeições, a vontade de crer nas tuas rimas e a cefaleia constante que me provocam os ladrares, as canções, as conversas, os risos dos meus amores e todos os sons, do campo e da cidade, nos quais não te materializas de imediato. Devolve-me a minha vida, que não sei o que fazer sem ela."


Do blog Um Amor Atrevido, o meu favorito,uma escritora fabulosa!

Jantar bloguista Portomosense

Ontem fui a um jantar bloguista. Pretendeu-se reunir os blogues do concelho e respectivos donos e tratar todos os assuntos que os envolvem, anonimatos, comentários, moderação de comentários, etc.
Do jantar, o que mais sobressaiu, além do debate das questões previamente anunciadas, foi algum extremar de posições entre os dois blogues mais influentes em termos políticos no concelho.
De um lado o Vila Forte , a blogar desde 2006, feito por gente do PSD, com cinco editores e que não tem os comentários moderados, e de outro lado o Pensar Porto de Mós, feito pelo João Gabriel, jornalista da TVI, um blog que também começou em 2006 e que tem a particularidade de ter feito oposição ao executivo PSD, ter feito campanha para a lista socialista liderada por Salgueiro.
Uma brilhante campanha da qual João Gabriel foi director, digo brilhante porque quando se consegue vender com sucesso um mau produto a campanha é boa. Só que, após alguns meses de utilização do produto, diga-se governação salgueirista, João Gabriel, descobriu o quanto tinha sido boa a campanha, e voltou a fazer no seu blog oposição ao ao executivo camarário, desta vez a que tinha ajudado a eleger.
Dou estas explicações todas para que, quem me leia e não é de cá, perceba tudinho.
Estes dois blogues têm duas filosofias editoriais diferentes, cada uma com aspectos positivos e negativos, assumindo os respectivos donos as consequências que daí advêm. Foi consensual que o anonimato, quando serve para a difamação, o ataque pessoal rasteiro é uma arma torpe, devendo esses comentários ser eliminados, proclamando João Gabriel, com razão que, como não há moderação no Vila Forte e os comentários vão para o ar antes de ser sancionados, sendo apagados posteriormente, que o dano às pessoas visadas já está feito. Também é verdade que o Vila Forte, pelo facto de não moderar comentários tem constituido um fórum importantíssimo de discussão política concelhia, tendo conseguido de alguma forma disciplinar os ataques pessoais que diminuiram drasticamente desde o início.
Eu gostei de ir... Aproveitei o convívio com os bloguistas mais experientes para aprender alguma coisa, como por exemplo inserir links (já consigo!) e fotos (vou tentar).

Com esta ajuda já completei o post das correntes que me enviou o Anónimo, vejam mais abaixo os felizes contemplados.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Momentos



Eu estava ali sentada na penumbra, naquele sofá onde me tinha enterrado. Cansada. Mal dormida. Absorta. Alheia à confusão que centenas de crianças e adolescentes espalhavam por ali, via através deles, nos meus devaneios.
De repente o meu olhar perdido, esbarra num outro olhar fixo em mim, ali mesmo à minha frente. Olhos enormes, escuros, luminosos. Menina de uns sete, oito anos, ar levemente exótico, talvez indiano, franzina, cabelo negro. Metida numa fila de meninos que esperam a sua vez para entrar.
Por momentos falámos, os nossos olhos cumprimentaram-se e as nossas almas tocaram-se e nasceu um sorriso espontâneo de quem se cumprimenta com genuina alegria.
Há olhos assim, que se cruzam com os nossos e onde nos sentimos em casa por segundos. Um dia perguntaram-me se os meus olhos eram bonitos e eu disse que sim, perguntaram-me porquê e eu respondi... Porque há muitos olhos que se prendem nos meus.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O dia do amor

Comemorou-se o dia de S.Valentim no sábado. As montras inundaram-se de corações e I love yous , que a língua inglesa fica sempre bem, como canta a Manuela Azevedo. As floristas agradecem, as perfumarias também e cumprem-se os rituais.
E o amor cumpre-se? Se calhar, aqueles elementos dos casais que se agridem de que falei na última crónica, até foram dos que esgotaram restaurantes e flores, num breve intervalo feliz dum filme trágico.
Nunca gostei de comemorar nada por obrigação, cada vez vivo pior com estes sentimentos marcados pelo calendário. No entanto, chegada aos tais dias, não evito uma certa nostalgia, um lembrar longínquo de comemorações felizes de quando ainda achava graça a estas coisas, não deixo de sentir uma vaga falta de achar mesmo graça e cumprir os rituais com a felicidade de outrora.
Neste dia dos namorados jantei em casa dum casal amigo, voltei para casa, instalei-me na varanda, observei a noite. Soltei a imaginação… Imaginei alguém, algures num centro comercial, a passear a esmo, olhos nas montras, nos transeuntes, mente no balanço de anos de dias de namorados em solidão, mente numa noite de amor diferente, num mergulho nuns olhos em que apetece afogar-se, o repouso num colo, dedos que se entrelaçam. E as pessoas que passam, e a vida também e apetece-lhe fazê-la parar e dizer, eu também vou, a mente a caminhar para longe e o medo de partir a puxá-lo.
Senti frio, recolhi a casa, sentei-me aqui. Escrevi esta crónica e outras coisas e depois de muitos balanços pensei que há quem precise de dias marcados para amar, para se lembrar de mimar os outros e também para se lembrar que falta alguma coisa, não para o dia dos namorados, que é só um, mas para o resto dos dias do ano.


Crónica publicada no Região de Leiria de 20/02/09

Corrente

Pela primeira vez desde que existo bloguisticamente, fui acorrentada. Quem me colocou as grilhetas foi o Anónimo , na pessoa do excelentíssimo Coutinho Ribeiro, tendo eu que dizer seis particularidades que eu vejo todos os dias ao espelho. Difícil é escolher, vejo tantas...
Aqui vão as que posso dizer...

Espelho meu, espelho meu
1- Bolas! Acho que já tenho mais uma ruga e tantas olheiras... Onde é que pára o corrector?

2- E agora.... Meu Deus, não tenho nada que vestir!

3 - Ainda dou com uma marreta na aparelhagem! Estes gajos já estão a ouvir AC/DC aos berros!

4 - Até nem estou nada mal, se o relógio parasse...

5 - Gosto deste brilhozinho anónimo no olhar.

6 - Bem... Agora é correr, Bom diaaa!


Os nomeados são:

Vila Forte

Angelo no País das maravilhas

Pensar Porto de Mós

Sol Infinito

Vida quase Perfeita

A rapariga que se apaixonou pelo amor

Caros nomeados, agora têm que mandar isto a mais seis pessoas!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Rosa


Nãp resisto... Enquanto espreitava os meus blogues favoritos, deixei perder os olhos no que a minha vista alcança...
O meu castelo de contos de fadas, envolto numa névoa rosa, e o anoitecer que o envolve.
Gosto de ver o céu rosa... A vida a cor de rosa é bonita!

Único

A ideia de ti
colou-se-me

é pão
é luz
e ar

a palavra acende-me

e torna-te
real


tanto corpo
tanta alma


só tu assim.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lembranças 1

Hoje lembrei-me da minha avó. Uma mulher fantástica de quem gosto de pensar que herdei alguma coisa. Uma daquelas mulheres que me faz lembrar algumas das personagens de Agustina, de raiz cravada na terra, de mão na enxada e na foice, de olhar fito no essencial.
Associada à minha avó, a minha bisavó, que eu via chegar de meses em meses (tinha sete filhos espalhados por dois distritos, passava em casa de cada um mês). Chegava de mala e cuia, com um grande saco cheio dos mais variados chás e uma cafeteira pretíssima onde fazia os chás, na lareira da minha avó, e uma cabeça de histórias, sobretudo de bruxas e encantamentos. Fazia versos ao jeito das quadras populares, diz a minha mãe que talvez venha daí o meu algum jeito para a escrita. Às seis filhas e às netas e bisnetas costumava dizer “Muito cuidadinho com os homens! São como as trempes, quando não queimam mascarram” (utilizava outra palavra – “escravunçam”, mas esta não a encontro em dicionário nenhum!).
Ambas casaram com homem fracos, ambas tomaram as rédeas do governo da casa. A minha bisavó, filha de casa abundante, apaixonou-se por um Zé Ninguém pequenino que conheceu num bailarico, explicava ela anos mais tarde o desvario da paixão e a vida de privações “ele balhava tão bem…”.
A minha avó, sagaz, de olho na experiência da mãe e nas provações de infância, casou rica, pensava ela. O meu avô, filho da patroa que a contratara para a apanha da azeitona, alfaiate, profissão de família, letrado e amante de leituras parecia um bom partido. Depois duns meses de namoro, e de muitas viagens de burro entre a terra dum e doutro, lá se fez a boda. Quatro filhas mais tarde, com uma crise enorme, sem trabalho na alfaiataria e com um homem que achava que era desprezo trabalhar no campo, arregaçou as mangas e foi trabalhar à jorna, ceifar, cavar, apanhar alecrim.
Uma morreu com 98, só tendo ido ao médico na altura da morte, sem nunca ter bebido leite (não gostava), o seu pequeno-almoço era um copo de vinho tinto e uma fatia de toucinho assado.
A minha avó morreu faz agora em Julho dois anos, com 96, era do signo leão. Conheço três mulheres de signo leão, todas mulheres inteiras, de coluna vertebral. Parece que a estou a ver, com os seus olhos azuis, a perna bem feita do seu orgulho, desempoeirada a ensinar-me a amassar o pão, a lavar as meias na pia de pedra, à beira do caminho e a ralhar com a minha mãe por me deixar tomar banho todos os dias. Tenho muitas saudades dela.
Nem uma nem outra sabiam ler nem escrever, mas possuíam uma sabedoria e uma visão do mundo inigualáveis. Recordo-as muitas vezes, mulheres anónimas, de quem não consta nenhum feito digno de nota em nenhum jornal ou livro, mas que foram únicas. Heroínas.

Manhã





Fugiu-me o olhar
pela manhã

foi atrás do sol
à procura
das primeiras flores da Primavera
que adivinha nos campos

e eu fiquei
pregada às letras
presa no labirinto
que as palavras tecem

acho que vou atrás dele

ser só brisa no ar
flor que desponta
para quem a quiser apanhar.

Há dias assim...
Em que me sinto a primeira pessoa
que no mundo
está a acordar...

Fico a velar...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Guia

Gosto de subir a serra assim de manhã cedo, quando é início de tudo e o dia um imenso território inexplorado em que tudo pode acontecer...
Observo o sol que derrete o gelo, ouço a música, sinto-me em casa aqui, nestas pedras, nestas árvores raras, nesta paisagem agreste e nua,onde me recolho e me sinto inteira. Despida de acessórios, em ligação directa à força alimentadora.
Hoje fiz um exercício habitual em mim, experimentei ver a minha paisagem querida pelos teus olhos,que não a conhecem.
Saboreei-a no prazer da tua descoberta, antevi-me na tua surpresa,vi-me nos teus olhos, os meus expectantes...
- Gostas?
Acho que sim.
No verde dos meus olhos há folhas de oliveira e restos de mel de madressilva e rosas albardeiras. Cá dentro afasto aquelas pedras maiores que impedem os visitantes de chegar àquele cantinho de paisagem que só eu conheço.
É bom ter-te cá.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Toponímia sentimental

Vemos cada sítio em que já estivemos com os olhos do coração, porque cada local fica associado ao que lá vivemos, numa espécie de mapa sentimental em que as grandes urbes são os locais em que fomos felizes, por insignificantes que sejam na importância real, colocando os locais em que a vida nos correu menos bem, por muito importantes que sejam, em terra de nenhures, onde não voltamos sem um calafrio, contrariados, e sem que a mente nos remeta para acontecimentos funestos.
Ligadas aos sítios em que fomos felizes ou não, estão pessoas que nos fizeram, ou não, felizes nesses sítios...
Cada sítio nos fala do que lá vivemos e com quem vivemos.
As histórias terminam, tudo passa, mas as nossas lembranças mantêm-nas vivas nos sítios onde se desenrolaram, por isso voltar é ser assolado por elas, numa espécie de folhear de álbum de fotografias amarelecidas, cujo cheiro adocicado a mofo nos suscita uma leve náusea.



aqui fui feliz
e isso basta-me

aqui tudo me diz
de olhares embrulhados
de mãos irrequietas
de sentires desgovernados

que importa se passou

sou aqui feliz onde fui

domingo, 8 de fevereiro de 2009

mãe

fui mãe nova, não demasiado nova, mas, de qualquer das maneiras, aos 23 anos penso que se pode considerar nova para os dias de hoje. fui mãe nova e como tal sem definir grandes planos ou traçar grandes objectivos,porque era assim casava-se e tinha-se filhos e pronto. nessa altura ainda não me tinha chegado a mania das interrogações ou das cogitações.
por isso, não me debati com grandes interogações metafísicas ou dúvidas existenciais, sobre se seria boa mãe, sobre a grande responsabilidade de educar um filho,e essas cenas, como eles dizem agora.
não sendo daquelas pessoas com instinto maternal exacerbado, fui aprendendo a ser mãe aos poucos, fui crescendo com eles, fui-me educando.
dezassete anos depois digo que é o emprego que mais gosto, o que me dá mais prazer, o que me dá mais felicidade.sem nenhuma dúvida.
Sou uma mãe feliz, muito feliz. Isto não quer dizer que seja uma mãe perfeita, ou que os meus filhos sejam perfeitos... Mas andamos lá perto, loooooool (aprendi a lolar com eles).
Rimos muito os três, e às vezes gritamos muito também, porque os gajos são uns desarrumados do catano e ouvem música aos berros, menos mal que ouvem Doors, pink floyd e outras cenas afins, o problema é só o volume.
Com o mais velho, ave rara, partilho uma infinidade de coisas grandes e pequenas, livros, séries, blogues, confidências várias, os meus amigos, os seus amigos...
Com o mais novo, ganda cromo, mais parecido comigo, é mais músicas, culinária,ginásio, public relations e uma boa disposição contagiante.
por isso, o dinheiro não estica, a euribor, o combustível, moem, mas não matam porque nos temos felizes e saudáveis.
para o ano o mais velho vai sair do ninho, não me aflige, fico contente por ele, faz parte. eu fico cá sempre e ele sabe. mas vou ter umas saudadezitas...
pronto...
hoje deu-me para isto, talvez porque ontem tive a casa cheia com os amigos deles e me diverti com o divertimento deles e porque adoro vê-los assim: felizes.
para quem não tinha plano nem filosofia inicial, acho que não estou a ir mal, nada mal mesmo ( modéstia à parte)...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Rasto... Outro

Tudo se apaga
apaga-se
a Dor
os nomes
o inútil
o fútil


O meu rasto fica


cada sílaba que juntei
cada beijo que te dei


Pisei com força
Na vida desencontrada
Em cada estrada esburacada


O meu rasto fica



E eu vou comigo…

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Não me importa...

Não me importa
Se, como diz a canção,
A vida vai torta

Não me importa
Se a felicidade
Me errou a porta

Não me importa
Se essa indiferença
Me corta

Não me importa
Se a palavra
Nasce morta


Porque entre o que não me importa
E o que sou
Nasce o novo dia
E eu vou na sua melodia…

Para onde vou?
Não me importa
Ainda que a vida seja torta
É nela que estou.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Pessoal

Bem... Andei aqui a hesitar antes de pôr este texto e de me expôr nele, mas agora que o fim de semana quase acabou decidi-me.
Este blog nasceu assim por acaso, por empurrão de uma amiga que também tinha um, (obrigada Deus por todas as pessoas que puseste no meu caminho, todas sem excepção me ensinaram alguma coisa),e sem ter nada de especial que colocar aqui , a não ser as crónicas que escrevia para os jornais aqui da região e outros poemas e textos alheios de que gostava.
Depois, lentamente, comecei a escrever outros textos, até que um dia alguém especial me disse que eu era capaz de escrever poesia e eu tentei...
Primeiro muito insegura, depois à medida que fui recolhendo opiniões, fui-me espraiando nas palavras, ganhando confiança de verso em verso.
Ontem foi um dia especial. Diferente.
Vi, pela primeira vez, os meus poemas impressos num livro e gostei. Com o meu nome. Não Maresia, não Rabiscos, mas eu Irene Cordeiro Pereira.
Embora sinta que a poesia me deixa nua, já não faz sentido continuar a ocultar o meu nome...
Já agora o livro chama-se antologia de poetas contemporâneos "Entre o sono e o sonho" da Chiado Editores.
Bem hajam.

Rasto.... Outro

Tudo se apaga
Apagam-se as palavras
Os nomes
O inútil

O meu rasto fica

Pisei com força
Na vida desencontrada
Em cada estrada esburacada

O meu rasto fica


E eu vou comigo…