Essência

nomes são só palavras

palavras
que nos escondem
que nos revelam
que nos desvelam
que vão e vêm

só a essência
é imutável

por muito que baralhemos
as sílabas.

Cansaço

não quero nada
nem música
nem poesia
nem sol
nem maresia

só que esta chuva
me lave as mágoas
me faça torrente
e me deixe espraiar


dói-me ser gente
não quero pensar

rasto

a luz da manhã
chegou assim
de mansinho

lá em baixo
vidas que se agitam
sonâmbulas
cumprindo rotinas

pouso os olhos no castelo
e lembro...

principes, fadas,
cavaleiros
finais felizes

outros olhares
outros momentos

guerras, mortes
desgostos


sou de pequenos nadas
e de sentires não passageiros
a vida deixa-me rasto...

Procura

olho a imensidão branca
e procuro as palavras
que me semearão por aí
pontos negros
na ponta dos meus dedos
no fim do olhar de quem lê

mas hoje nada
nem vaga tristeza
nem incerto contentamento
me inspiram

saio de mansinho
na chuva desatinada

corpo penado
pena dobrada...

Diferente

entro pelo dia
através da palavra

na rua
apenas mais uma
que fala, ri, sente

na ponta dos dedos
nas sílabas a fluir
sou única
das frases contente
neste desvario de poesia

sei-me gente.
diferente...

Foz

e a água aquietou-se
não mais foi dor ou revolução
levou-me...

nos teus braços-porto
desaguo
sou folha serena
na rebentação
saibo-me a mar
e renovação...

Cruzamento

sei-te

sem nome
sem rosto
sem corpo


só alma
só palavra
uma após outra
desembarcam em mim

fuga dos teus dias
desvario de magias.

torrente

passam as àguas

correntes de mim

gotas que se dividem

e se reunem


assim



caudal.