sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cântico de Sangue

Se é certa, como dizes,
Ser chegada a hora vil de partir,
Certo é também, o momento em que fico aqui,
A admirar-te,
A absorver-te.
Há um lapso curvo e sideral no tempo
Onde me perco,
Onde a tua língua confunde os meus sentidos.
E, neste solene engano
Sobe por mim acima,
A vontade de remendar-te.
Ressoa implacavelmente,
Teu fino e acutilante timbre.
Quer rasgar,
Quer romper.
Hoje, elevo-me à indiferença,
E, quem na realidade bebe sangue,
Sou eu.


Retirado do Moleskine por Narrador
www.doalpendredestacasa.blogspot.com

Palavras

Andei indecisa quanto ao tema da crónica… Esteve sempre debaixo do meu nariz, na ponta dos meus dedos, nas palavras que todos os dias digo, escrevo e leio.
Pelas palavras vos chego, pelas palavras me exponho em cada semana. E pelas palavras me descobrem, pela maneira como as escolho, como as associo, como as faço transmitir aquilo que sinto e sou.
Dias há em que palavra nenhuma parece ser boa para nos traduzir, para nos conduzir onde queremos e precisamos do nosso silêncio para nos apaziguar, para nos organizar cá dentro as sílabas e não as deixar sair até que estejam maduras.
E o segredo do nosso sucesso reside na maneira como usamos as palavras, como as entrelaçamos, como as fazemos chegar aos outros. Podem ser porto de abrigo as nossas palavras e acolhe-los nas suas tempestades e serem agasalho, serem luz. Também podem ser punhais, como dizia o poeta, deixamo-las sair, como setas, por vezes atiramo-las, e elas batem em alguém, machucam, deixam marcas.
Geri-las de forma inteligente é o sonho de todos, uns porque falam demais, outros de menos, outros porque as palavras se lhes entaramelam na boca e parecem nunca corresponder àquilo que sentem e o abismo entre o dizer e o sentir é intransponível.
E depois há aquelas pessoas que comunicam sem palavras, que basta um olhar para tudo se saber, tudo se sentir.
Já disse coisas de que me arrependi, já me arrependi de não ter dito outras, como todos nós. Há dias em que falo como uma “matraca”, há dias em que necessito dos meus silêncios, para me desintoxicar, para organizar cá dentro a profusão de palavras com que diariamente somos bombardeados.
Palavra e silêncio…

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ne varietur

(um barco encalhado
na espuma do mar)

um silêncio furtado
na pressa de um olhar

(o teu ventre um abrigo
o teu peito um farol)

és campo de trigo
amadurecido ao Sol


escrito por Alexandre #
http://www.alexandre-monteiro.blogspot.com

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Amizade Estelar

(recreação sobre o poema com o mesmo título da autoria de Frederico Nietzsche)

Tu e eu, dois navios,
ocasionalmente aportados neste mesmo cais.
Nossos diários de bordo indicam
como pesa diferente
a carga que transportamos.
Como são opostos os destinos,
porventura é diferente também,
a forma como beijamos e acariciamos
as águas que nos sustentam.

Entre velhos lobos
neste mar das tormentas de nós,
há um código de amizade,
feito amor, feito abraço, solidariedade.
Há sinais por sobre as ondas,
silvos de entendimento,
âncoras de compreensão.

E mesmo que esteja escrito
que nossos navios seguem diferentes rumos,
suponhamos generosamente
que deus existe,
e criou uma estrela longínqua e brilhante,
que velará sobre nós
a atracção magnética
de uma amizade estelar.*

RAÍZ DE LADO NENHUM, Ed. «Tribuna do Algarve», Lagoa, 1992, pág.46
José Mendes Bota nasceu, em Loulé, em 4 de Agosto de 1955. É Licenciado em Economia, desempenhando actualmente o cargo de deputado à Assembleia da República e Presidente da Comissão Política Distrital do PSD de Faro. Entre as obras publicadas destacamos, no campo da poesia, Triângulos de Desespero (1987) e Raiz de Lado Nenhum (1992), e, no domínio da regionalização, Uma Voz do Sul na Europa (1994).

Vem lá a Primavera

Gosto de todas as estações do ano, a cada uma os seus encantos. Quando chegam, eu recebo-as com um sabor de novidade que se renova a cada ano, um prazer virginal em saborear as diferenças que a natureza nos proporciona.
A Primavera é, porém, especial, a minha chegada a este mundo está relacionada com ela por isso existirá sempre entre nós uma afinidade íntima, quase um laço de sangue.
Gosto deste cheiro a Primavera, deste sentir que a natureza se renova, destas temperaturas mais tépidas, do aligeirar das roupas, do cheiro do polén no ar.
Há uma promessa de regeneração...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Morangos com Chantilly

É oficial! Eu andava a adiar a coisa, mas... não resisti ! Abriu a época do morango com chantilly em minha casa. É que esta época antecede a da preparação para o bikini e as duas colidem um pouco, mas há prazeres a que não se resiste.
Portanto hoje lá segui o ritual: comprei uns morangos bem vermelhos, bem brilhantes, bem com ar "come-me", um pacote de natas frescas. Bati as natas, juntei uma porção de açúcar (grande), lavei os morangos, cortei-os.
Bem... Agora imaginem-me de frente para o meu castelo, a teclar e a deliciar-me... São pequenos prazeres que nos enchem de bem estar!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Raio de Sol

Está cinzento e chove e o meu castelo parece tristonho através das gotas de água... Mas o sol há um bocado brilhou e pareceu indicar que, mesmo nos dias mais cinzentos há sempre um raio de sol para nos alegrar, para nos mostrar o caminho, à laia de estrela dos reis magos.
E depois, se não houver raio de sol e hesitarmos no caminho, podemos sempre seguir o conselho da Susanna Tamaro:


"Quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar."

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Alerta Amarelo

De acordo com a previsão meteorológica hoje estamos em alerta amarelo... Chuva, vento, tempestades. Sabe-me bem hoje. Estamos em consonância.
Pode ser que, no meio das nuvens, por entre uma aberta, um raio de sol brilhe e venha direitinho a mim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Blogosfera

Confesso que já me era difícil passar sem a Internet, quando há qualquer problema com a net, fica assim tudo meio estranho cá em casa, tipo quando falta a água e a luz… Lembra-me que aqui há uns anos fiz uma viagem à Amazónia, a Porto de Mós do Brasil, entre outras terras, e ao visitar uma freguesia, que ficava à beira do rio Xingu, toda a gente se surpreendeu em como era possível, viver ali, na beira do rio, sem luz eléctrica, telefone, televisão, essas coisas que para nós são indispensáveis e na altura um dos anfitriões disse “a gente não sente falta do que nunca teve” e de facto assim é.
Todos os dias gosto de abrir os meus e-mails, falar no Messenger se tenho mais tempo e, sobretudo, consultar os meus blogues favoritos. Antigamente era muito difícil para quem gostasse de escrever ou opinar sobre os mais variados assuntos, partilhá-lo com alguém mais que o seu grupo restrito de amigos, hoje a Internet abre-nos a possibilidade de aceder ao mundo que cada um nos quer mostrar.
Deste modo há blogues para todos os gostos, e eu sou muito eclética nesse campo. Gosto de blogues ligados à política, sobretudo aqueles que dizem respeito à minha terra; gosto de blogues de poesia como o www.daspalavrasquenosunem.blogspot.com; de escrita mais intimista, como o www.umamoratrevido.blogspot.com; de crítica social e política www.31daarmada.blogs.sapo.pt e www.marretas.blogspot.com; depois há uns blogues com que me divirto muito: o do professor Júlio Machado Vaz www.murcon.blogspot.com; o www.internofeminino.blogs.sapo.pt, e o www.cenasdegaja.blogs.sapo.pt (este último a partir do qual já existem dois livros publicados, aborda o relacionamento homem/mulher, não é aconselhável a pessoas mais sensíveis, usa linguagem eventualmente chocante).
Cada um no seu estilo, faz parte dos meus hábitos de leitura. Uns fazem-me pensar, outros sonhar e outros rir, alguns tudo ao mesmo tempo! Disponíveis para nos surpreendermos, estaremos disponíveis para aprender.

Elogio ao Amor

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em 'diálogo'. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam 'praticamente' apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do 'tá tudo bem, tudo bem', tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso 'dá lá um jeitinho sentimental'. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.

Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A 'vidinha' é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra.

A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso (Crítico, escritor e destacado jornalista português, 1955- )

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

POR AZAR ENQUANTO FAZIA ZAPPING

acertei na sic notícias e tava lá sua excelência o senhor engenheiro primeiro ministro a dar uma espécie de entrevista mas cá pra mim aquilo tava tudo combinado co home até levava uns cartõezinhos com números e estatísticas pra responder às "perguntas" dos entrevistadores que às vezes até faziam umas perguntas a fugir pró impertinente mas sempre dentro da maior elevação e não sei se já repararam que cheguei até aqui sem meter uma puta duma vírgula um ponto final ou mesmo um parágrafo e isto tudo pra dizer que foi um galo do caraças que o que eu queria mesmo ver era o csi mas fiquei a olhar praqueles canastrões e o que mais me impressionou foi que sua excelência o senhor engenheiro primeiro ministro parece mas parece mesmo que acredita naquilo que estava a dizer e há gente internada no júlio de matos e no magalhães lemos com uns sintomas parecidos.
ANIMAL

www.marretas.blogspot.com

Sabores

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Iluminas-me. Emana de ti um calor que me cose o frio na barriga, quando te vejo ao longe e me rasgas o sorriso com uma precisão de bisturi. Então, refinam-se-me os sentidos e fico acutilante e desperta, a dar pelo cheiro a detergente nos umbrais, pelo brilho azulado da passadeira pintada de fresco, pelo vento aprisionado no redondo da praça e até por um milhafre perdido, que se debruça nas nuvens a tentar decifrar as copas nuas das árvores, os pespontos nos passeios, os fechos de correr das ruas. E o dia corre melhor. Gosto de te ter assim, como um sorvo rápido no intervalo dos dias ou a cigarrilha que te desaparece na boca enquanto me ouves ou finges: cabes-me na exacta medida desses poucos esplêndidos minutos. E gosto do à-vontade com que vês a minha vergonha dissolver-se lentamente no teu café. És promessa de escrita e o voo assarapantado das palavras dentro de mim, e só por isso valerias a pena. Às vezes, quando quase te pediria que ficasses, apetece-me guiar-te como se uma estrada secundária num princípio de Primavera e percorrer devagar as curvas do teu nariz que nunca cresceu. Há em ti um arremedo de tristeza que aposto se manifesta no escuro quando mais ninguém vê e que acrescenta em mim a vontade de te fazer festas e de te segredar intolerâncias ao ouvido, antes que descruzes as pernas, dobres o jornal e vás à tua vida. Iluminas, rasgas, aqueces, refinas, prometes, dissolves: um degrau lavado, uma lista branca, uma praça fechada sobre nós, a rapina de um bater de asas, uns minutos delicados, um passeio pelo teu corpo enquanto me mexes com a colher contra as paredes da tua chávena. E o dia corre melhor.


http://umamoratrevido.blogspot.com

domingo, 10 de fevereiro de 2008

umamoratrevido.blogspot.com

Confessa que já deste por ti a desenroscar frascos de shampô nas prateleiras do supermercado a ver se me encontravas lá dentro e que depois os fechaste apressadamente para que ninguém te visse e te sentiste um parvo, um tolo. E que mesmo depois de te teres sentido tolo continuaste inquieto porque não me descortinaste em nenhum daqueles cheiros e eu explico-te porquê: é que uso um amaciador diferente a cada vez que lavo os cabelos, jojoba, camomila, flor de hera, e às vezes ponho um creme nas pontas que tem coco ou gérmen de trigo, já nem sei, e espalho no fim um perfume fresco, limonado, especialmente quando faz sol, e que tudo isto se misturou com o suor que então se me derrapava pelo pescoço, eram os nervos, e que o cheiro, aquele em que te embebeste quando me agarraste na cabeça e a puxaste para ti, não o encontras dentro de frasco algum (só em mim).

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Nazaré - Autenticidade

Sermos nós, sermos genuínos é algo que vale a pena, que nos faz sentir bem, que nos posiciona no nosso lugar perante o mundo e os outros. Quem anda sempre a tentar ser o que não é ou a imitar os outros porque está na moda, ou por outros motivos, persegue uma quimera e nunca se sentirá bem ou terá os resultados pretendidos porque não dá a bota com a perdigota.
Estas frases valem não só para cada um de nós enquanto indivíduos, mas também para todos nós enquanto membros que integram grupos, regiões, um país e vêm a propósito do Carnaval, época que acabámos de viver. Sempre gostei de Carnaval, não do Carnaval do samba, mas daquele que associo à minha infância, ao Entrudo, às roupas trapalhonas, ao andar mascarado de casa em casa, recebendo chouriça e ovos com os quais se faziam patuscadas. Por circunstâncias várias da vida, há muitos anos que não contactava com a folia carnavalesca, os desfiles dos corsos nunca me atraíram muito também.
Numa destas noites de Carnaval fui à Nazaré, a convite de amigos (o que seria de nós sem os amigos? Quantas coisas ficaríamos por saber ou descobrir se nos fechássemos aos outros e à partilha!) e fiquei realmente surpresa! Pela positiva!
Assisti a uma “cegada”( uma espécie de rábula ao estilo da revista portuguesa, representada pela população da Nazaré), fui ao baile do “Mar Alte”, dancei a noite inteira sem ouvir uma música brasileira e ri a bom rir com as letras das marchas que tocavam em todo lado com letras e músicas nazarenas. Estas letras são por si só um espectáculo, escritas ao jeito do falar nazareno, relatando situações típicas, muitas vezes com tom humorístico, bem… Adorei.
Graças a Deus que as modas e a globalização não chegam a todo lado e há gente que preserva as suas raízes e tradições. Parabéns às gentes da Nazaré, por serem assim, autênticos, bairristas, genuínos.
Para o ano volto… Agora vou recuperar os pés!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Máscaras

Escrevo esta crónica a entrar no fim-de-semana de Carnaval, altura de folias, festas, divertimentos e às vezes excessos.
Eu acho piada ao Carnaval, não ao Carnaval de imitação brasileira, acho ao nosso Entrudo, à sátira social, aos nossos mascarados. Na Mendiga usava-se o termo “encaraçar-se”, nestas alturas os sótãos e arcas das nossas mães ficavam uma confusão. Encaraçávamo-nos rente à noite, em grupo, depois íamos de casa em casa e o divertimento consistia nas tentativas de adivinhação por parte das pessoas que nos abriam a porta. Davam-nos chouriça, ovos e no fim do serão em casa de um de nós, fazíamos uma patuscada.
Há quem não goste nada de Carnaval, como há quem não goste de Natal, há quem diga “mascarado ando eu todo ano”, e o pior é que é mesmo assim! Há gente que anda disfarçada a maior parte dos seus dias, escondendo-se dos outros, mascarando a sua essência, mudando de máscara, consoante as conveniências e os objectivos a atingir. O que vale para quem os rodeia é que quarta-feira de cinzas acaba sempre por chegar, ainda que demore tempo e haja gente magoada pelo caminho. Já todos cruzámos com pessoas assim - Ecoponto com elas!
Para quem se mascara para fugir de si próprio é que não há Ecoponto que valha…
Do que eu me fui lembrar…
Esta crónica é cinza… Quaresma, sobriedade… Lembra-te que és pó…

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:"Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?" "Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles. "Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?" Questionou novamente o pensador."Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou outro discípulo. E o mestre volta a perguntar:"Então não é possível falar-lhe em voz baixa?" Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.Então ele esclareceu: "Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?" O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar, apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas." Por fim, o pensador conclui, dizendo:"Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem,não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".

Mahatma Gandhi

Rir

Rir faz bem à alma! Eu gosto muito de rir e em minha casa rimos muito. O sentido de humor é fundamental e a capacidade de rirmos de tudo e especialmente de nós é uma ferramenta essencial para a vida. Por isso sempre incentivei essa capacidade nos meus filhos e agora tenho dois companheiros de sentido de humor apurado e com quem me divirto muito.
Esta semana ri muito à conta dum livro, o que já não me acontecia desde os meus tempos de adolescente quando lia os livros das Gémeas no Colégio das Torres. Quando digo rir, é rir à gargalhada, depois emprestei o livro ao meu filho e a cena repetiu-se.
O livro foi-me oferecido por um amigo, que o partilhou comigo, e eu cá estou a partilhá-lo convosco. O livro chama-se Wilt e o escritor é um humorista inglês chamado Tom Sharpe que nos conta a história de um homem de meia-idade, Wilt, sufocado pela rotina de uma vida que cada vez sente mais desprovida de significado e que vai ser posto à prova por uma sucessão de acontecimentos, no mínimo, rocambolescos. É um livro de fina crítica social, em que todos identificamos algo de nós ou de pessoas que conhecemos nas personagens que por lá se movimentam.
O livro põe-nos muito bem dispostos, aviso que existe algum português um pouco mais vernáculo pelo meio e que há situações que podem eventualmente chocar mentes mais sensíveis (assim já sei que muita gente vai a correr ler… acho que a publicidade aos livros devia ser tão agressiva como as de outros produtos!)
Aviso para não lerem o livro em público que é para não serem julgados como atrasados mentais, como me aconteceu a mim esta semana que o li na sala de espera da urgência pediátrica do Hospital de Leiria e onde, apesar do motivo que me lá levou, ri a bom rir, suscitando olhares reprovadores e curiosos. Já agora aproveito para elogiar o funcionamento desta urgência, assim dá gosto!
Finalmente… Riam! Esqueçam o “muito riso, pouco siso”, não faltam para aí estudos científicos a comprovar os benefícios do riso.